O estudo envolveu, no total, 276 crianças – 167 das quais com problemas de linguagem e 109 sem estes distúrbios – com idades entre os três anos e meio e os seis. Todas as crianças eram francesas e viviam na região de Ille-et-Vilaine, no nordeste do país. Desta amostra foram excluídas as crianças cujos problemas de linguagem estavam associados a patologias (como doença congénita, distúrbios neurológicos, psiquiátricos ou auditivos).
Os investigadores registaram o número médio de horas diário que cada criança passava em frente aos ecrãs – de televisão, consolas de jogos, tablets, smartphones e computadores – antes de ir para a escola, justificando que este é um excelente indicador. No entanto, a pesquisa desvaloriza o impacto dos dados registados (em média vinte minutos pela manhã) em virtude do momento do dia em que as crianças ficam expostas. “Isso esgotará a atenção deles e torná-las-á menos capazes de aprender”, explica Mannon Collet, um dos investigadores do estudo e professor na Universidade de Rennes.
“A exposição de crianças em idades precoces aos ecrãs implica riscos para o desenvolvimento e a saúde física”, alertou a Ministra da Saúde francesa, Agnès Buzyn no âmbito de campanha lançada pelo Conselho Superior de Audiovisual, em 2016, que desaconselha o uso da televisão por crianças menores de 3 anos.
Os investigadores concluiram que o risco das crianças desenvolverem distúrbios de linguagem é três vezes maior quando expostas aos ecrãs durante a manhã e esse risco é multiplicado por seis se estas crianças não interagem com os pais.
O psiquiatra francês Serge Tisseron criou um esquema numérico – 3-6-9-12 – a fim de identificar as idades de referência para a introdução dos ecrãs na vida das crianças. Segundo o psiquiatra, até aos 3 anos as crianças não devem ser expostas a qualquer tipo de ecrãs e defende que nesta idade estimular os cinco sentidos é muito mais importante. Dos 3 aos 6 anos o uso dos ecrãs deve ser bastante limitado. Aos 9 deve ser concedido o acesso à Internet. O uso das redes sociais é recomendado apenas para os jovens maiores de 12 anos.
A Organização Mundial de Saúde desaconselha o uso dos ecrãs em crianças com menos de 2 anos e recomenda uma utilização limitada entre os 2 e os 5 anos. Esta é a única forma de combater problemas como um estilo de vida sedentário, obesidade, problemas de sono, distúrbios psicomotores e cognitivos, assim como outros comportamentos induzidos pela passividade dos ecrãs.