A hipótese em cima da mesa era a de que os humanos evoluíram tornando-se mais cooperativos e amigáveis ao escolherem as companhias com base nos seus comportamentos. A investigação, agora publicada na Science Advences, revela as primeiras provas genéticas empíricas desta “autodomesticação”.
A equipa de investigção liderada por Cedric Boeckx, professor do Departamento de Fiolologia Catalã e Lingística Geral, da Universidade de Barcelona, procurou dar seguimento aos resultados de investigações anteriores que identificaram semelhanças genéticas entre a espécie humana e os animais domesticados. Os resultados permitiram identificar uma rede genética presente na estrutura facial do homem anatomicamente moderno, não encontrando precedentes no genoma dos neandertais – um outro grupo humano com um ADN muito semelhante ao do homem moderno – que a comunidade cientifica acredita terem convivido ao longo de dez mil anos.
No estudo, a equipa de Cedric Boeckx procurou dar um passo mais além e direcionar a pesquisa para a crista neural – um grupo de células migratórias responsáveis por formar todos os tipos de células nos corpos vetebrados. Tendo em conta que o processo de domesticação animal resulta de um défice ao nível das células da crista neural, a investigação questionou: “Será que os seres humanos desenvolveram faculdades cognitivas sociáveis e um rosto retraído em relação a outros grupos humanos extintos no cursos da nossa evolução, como resultado dessas mudanças genéticas?”
Para testar esta hipótese, os investigadores partiram de um conjuto de pressupostos inspirados no Síndrome de Williams – um distúrbio específico do desenvolvimento neurológico humano – relevante para o estudo da domesticação, na medida em que esta patologia é conhecida como uma neurocristopatia: um processo provocado por um défice de um tipo específico de células que ocorre durante a fase embrionária.
Uma equipa de investigação da Universidade de Milão, que também colaborou no estudo, conseguiu mostrar a partir de modelos in vitro de células da pele afetadas pelo Síndrome de Williams que o gene BAZ1B, responsável pela manifestação do síndrome, controla o comportamento das células da crista neural.
Os investigadores italianos confirmaram a presença do BAZ1B em genomas humanos ancestrais e modernos. O objetivo era entender se as redes genéticas das células da crista neural foram afetadas no processo de evolução humana em comparação com o genoma dos neandertais.
Os resulados mostraram que o BAZ1B afeta um número significativo de genes que acumulam mutações em todas as populações humanas vivas que não são encontradas nos genomas humanos de espécies ancestrais. “Entendemos que isso significa que a rede genética BAZ1B é uma razão importante pela qual o nosso rosto é tão diferente quando comparado com nossos “parentes” extintos, os neandertais”, comentou Boeckx. “No geral, este gene fornece pela primeira vez a confirmação da hipótese de autodomesticação baseada na crista neural”, rematou.