Até agora, os cientistas acreditavam que o universo era “plano”, resultado da análise de enormes quantidades de dados recolhidos pelos telescópios que estão de olho no espaço profundo. Mas as mais recentes leituras do telescópio Planck, da Agência Espacial Europeia, vêm abalar essa convicção e ameaçar que, basicamente, a nossa compreensão do universo, no que diz respeito à sua forma, pode estar errada nos seus fundamentos.
O novo estudo, publicado na Nature Astronomy, que os autores consideram poder abrir uma “crise na cosmologia”, põe a hipótese de o universo ser “fechado”, ou esférico, o que explicaria as disparidades dos dados recolhidos pelo Planck em relação ao expectável.
Num universo plano, linhas paralelas manter-se-iam sempre paralelas, tal como se as desenharmos numa folha de papel; se não for plano, as linhas intercetam-se, cruzam-se, encontram-se em algum ponto (como se as desenharmos num objeto esférico).
Os cientistas alertam que será necessária uma investigação mais aprofundada para perceber se os novos dados são sinal de que nos faltam peças do puzzle, se não passam de uma “flutuação estatística” ou se é mesmo altura para uma “nova física”.
De acordo com estas novas observações, o universo tem 41 vezes mais probabilidade de ser fechado do que plano. Mas há mais um dado a adensar este quebra-cabeças: o universo também parece estar a expandir-se mais rapidamente do que “devia”. E se isso é difícil de explicar com o modelo atual, a equipa de investigadores responsável por este estudo alerta que é ainda mais difícil com um modelo esférico.
“Num universo fechado, estas anomalias são mais sérias do que pensávamos”, afirma Alessandro Melchiorri, da Universidade de Roma, que liderou a investigação. “Se nada bate certo, temos de pensar seriamente sobre o nosso modelo do universo e da sua formação”.
A explicação corrente para a formação do universo inclui um período de rápida expansão após o Big Bang. À luz dos modelos adotados até aqui, essa inflação cósmica levaria, naturalmente, a uma universo plano. Se afinal não for…
“Precisamos de um novo modelo e ainda não sabemos o que é”, conclui Melchiorri.