A carne está na ordem do dia, devido às emissões do setor da pecuária. Mas nem toda a proteína vai parar a estômagos humanos: uma boa parte destina-se a alimentar animais de companhia. Segundo um estudo publicado na revista científica PLOS One, a produção de carne para alimentar os 163 milhões de cães e gatos nos EUA (um animal por cada duas pessoas) emite 64 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa. Ou seja, a ração destes animais emite tanto quanto 13,5 milhões de carros – perto do triplo dos automóveis em circulação em Portugal.
Em Portugal, a proporção de cães e gatos é menor: estatísticas de 2015 indicavam haver cerca de 3,9 milhões de cães e gatos, o que corresponde a pouco mais de um animal por três pessoas, sendo que 54% dos lares portugueses tinham pelo menos um animal de estimação (número que poderá ter crescido, uma vez que quatro anos antes apenas 45% das casas tinham animais). Mas, a uma escala diferente, a sua pegada ecológica ainda é considerável. Adaptando os resultados da investigação para a realidade nacional, a ração para os cães e gatos das famílias portuguesas emitirá 1,53 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa – tanto quanto 212,5 mil pessoas, ou quase metade da população da cidade de Lisboa (em Portugal, cada habitante emite, em média, 7,2 toneladas de gases com efeito de estufa por ano).
O estudo estima igualmente que a alimentação de cães e gatos corresponda a 25% a 30% dos efeitos ambientais da produção de carne, “em termos de uso da terra, água, combustíveis fósseis, fosfatos e biocidas”. E esses impactos deverão crescer exponencialmente, alerta o autor da investigação, Gregory Okin, professor do Departamento de Geografia da Universidade da Califórnia. “À medida que a posse de animais de estimação aumenta em alguns países em desenvolvimento, especialmente na China, e as tendências continuam na direção de dar aos animais alimentos com maior conteúdo e qualidade de carne, globalmente, a propriedade de animais de estimação aumentará os impactos ambientais das escolhas alimentares humanas.”
O investigador sugere, a bem do planeta, que se diminua a quantidade de cães e gatos, a favor de animais mais pequenos. ” Reduzir a taxa de posse de cães e gatos, talvez a favor de outros animais de estimação que ofereçam benefícios emocionais e de saúde semelhantes, reduziria consideravelmente esses impactos. Esforços simultâneos em todo o setor para reduzir a sobrealimentação, reduzir o desperdício e encontrar fontes alternativas de proteína também reduzirão esses impactos.” A sobrealimentação é referida no contexto de estudos que demonstram haver um problema generalizado de obesidade de cães e gatos.
“Esta análise não significa que devemos limitar a propriedade de cães e gatos”, conclui Gregory Okin. “Mas também não podemos vê-la como um bem incontestável.”