O peixe-dragão-do-mar-profundo vive a cerca de 2.500 metros de profundidade, onde a própria luz tem dificuldade a chegar. Os seus dentes, que chegam a medir metade do tamanho da cabeça, estão cobertos de nano-cristais que impedem a reflexão da luz e que, portanto, os tornam invisíveis. Foi a esta conclusão que Audrey Velasco-Hogan, uma estudante da Universidade da Califórnia de San Diego, nos EUA, chegou na sua recente investigação.
“Eles passam a maior parte do tempo parados de boca aberta, à espera de que algo se aproxime”, relata Velasco-Hogan. “Os seus dentes estão sempre expostos, por isso é importante que sejam transparentes, para não refletirem ou dispersarem qualquer luz bioluminescente do ambiente”.
O estudo de Velasco–Hogan focou-se num tipo específico de peixe-dragão, o Aristostomias scintillans. Apesar de ser do tamanho de um lápis, chega a caçar presas até metade do seu tamanho. Quando a comida escasseia, os peixes-dragão-do-mar-profundo chegam inclusive a comer-se uns aos outros. Se os seus dentes fossem visíveis, afirmam os cientistas, as presas identificá-los-iam e fugiriam imediatamente.
A equipa de Velasco-Hogan analisou a nanoestrutura dos dentes do peixe-dragão-do-mar-profundo com recurso a um microscópio eletrónico, um aparelho utilizado para a obtenção de imagens de alta resolução de espécimes biológicos. Descobriu que, tal como os humanos, os dentes dos peixes-dragão-do-mar-profundo têm uma camada exterior semelhante a esmalte e uma camada interior de dentina.
A camada externa tem uma cobertura de nanocristais organizados propositadamente para prevenir a reflexão de luz da superfície do dente, concluíram os cientistas. Já a camada interna também possui uma organização diferente, ao não apresentar os mesmos tubos ocos que a dentina humana, responsáveis, entre outras coisas, pela característica cor de marfim dos dentes. Por fim, a extrema fineza dos dentes também contribui para o seu aspeto transparente.
“De um ponto de vista material, é muito interessante perceber que os dentes do peixe-dragão-do-mar-profundo têm estruturas diferentes dos restantes dentes”, diz Velasco-Hogan. A estudante considera que a sua investigação poderá ajudar a compreender melhor os organismos biológicos das profundezas do oceano e os processos evolutivos que estes sofreram para sobreviver neste ambiente.
“As adaptações que os organismos biológicos mostram nos seus ambientes específicos sempre foi um motivador para a inovação tecnológica, e o peixe-dragão-do-mar-profundo não é exceção”, comentou Dimitri Deheyn, biólogo marinho da Scripps Institution of Oceanography, na Universidade da Califórnia em San Diego. Estas descobertas poderão ser úteis, por exemplo, para o desenvolvimento de cerâmicas transparentes.
A natureza já inspirou muitas inovações tecnológicas e, segundo o biólogo, o peixe-dragão-do-mar-profundo também terá a sua oportunidade de o fazer.
CONHEÇA A NOVA EDIÇÃO DIGITAL DA VISÃO. LEIA GRÁTIS E TENHA ACESSO A JORNALISMO INDEPENDENTE E DE QUALIDADE AQUI
