À VISÃO, João Gil confessa que a ideia surgiu numa troca de mensagens com o amigo Rui Veloso: “E se em vez de fazermos um concerto solidário, que se esgota numa noite, fizéssemos algo mais prolongado no tempo?”.
Agora, lançaram o desafio aos artistas. O objectivo é criar uma corrente solidária “viral” através dos vídeos partilhados por músicos, atores, poetas ou outros performers profissionais que queiram voluntariamente associar-se à causa. Todos os vídeos serão partilhados com a indicação do número de telefone 761 20 22 22. Cada chamada angaria €1 para a missão da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) e da Médicos do Mundo em Moçambique.
Com mais de €2 milhões angariados, o presidente da CVP, Francisco George, sublinha a importância de cada euro, até porque a ambição da equipa não tem parado de crescer.
“Vamos deixar uma memória de pedra em Moçambique”, nota o ex-director-geral de saúde. Além de ajudarem na reconstrução do centro de saúde e da maternidade de Macurungo, o bairro onde está instalado o hospital de campanha da CVP, foi agora revelado que também vão contribuir para melhorar o laboratório de análises do Hospital Central da Beira.
O vídeo de João Gil, sozinho a tocar guitarra na sua sala de estar, dá o tom à iniciativa: “Pedimos aos músicos que façam pequenos vídeos, à volta de dois minutos, no seu ambiente mais confortável.”
Rui Veloso acrescenta que os músicos podem participar mais do que uma vez e até ensaiar colaborações – na conferência de imprensa de apresentação da campanha ficou mais ou menos prometido um vídeo de ambos a cantarem o clássico Postal dos Correios dos Rio Grande.
“A ideia é que seja muito democrático e sem protagonismos, só motivado pela vontade genuína de ajudar, e que passe de uns para os outros”, diz o autor de Ar de Rock, que também já mobilizou artistas moçambicanos e angolanos para participarem.
Até ao momento, associaram-se à campanha cerca de três dezenas de músicos, como Sérgio Godinho e Filipe Raposo ou João Pedro Pais.
João Gil gostaria que a iniciativa se tornasse um verdadeiro movimento e chama-lhe, até, um teste à mobilização dos artistas. “A adesão pode ser enorme ou não, tudo depende do envolvimento das pessoas.”
Francisco George garante que a Operação Embondeiro só terminará quando as obras de reabilitação da responsabilidade da CVP estiverem concluídas. Confessa estarem em contra-relógio para a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à Cidade da Beira, ainda sem data oficial marcada. “Gostávamos que fosse o Presidente, juntamente com o seu homólogo moçambicano, a inaugurar a obra”, revela.
O presidente da CVP manifestou orgulho na resposta solidária dos portugueses, mas admite que os donativos ainda não são suficientes para fazer face às necessidades no terreno.
João Gil, explica, por isso, que o objectivo da campanha agora lançada é, precisamente, “esticar o tempo”, ou seja, “manter o tema na agenda mediática para os donativos continuarem a chegar porque as necessidades são enormes”.
A preocupação com a transparência é evidente e também o músico reforçou “que há a garantia de que a ajuda chegará ao destino, contrariando o fantasma recente dos donativos que não chegaram”, numa alusão aos casos registados após os incêndios em Pedrogão Grande.
Os vídeos dos artistas podem ser enviados para o email musicos@cruzvermelha.org.pt e, depois, são partilhados na página da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), através do portal da Sapo, que também se associou à campanha, juntamente com a Altice, responsável pela linha telefónica.
“Ponham lá isto tudo viral”, pediu Francisco George, já depois de apelar a uma nova versão de Chico Fininho junto de Rui Veloso.
Quanto a um concerto, a acontecer, João Gil acredita que deveria ser em Moçambique mas, para já, diz ser necessário “dar tempo ao tempo”.
O hospital de campanha da CVP, por dia, dá cerca de uma centena de consultas, assiste uma média de cinco partos e realiza à volta de 30 procedimentos cirúrgicos.
O Coordenador Nacional de Emergência da CVP, Gonçalo Órfão, que esteve três semanas na Beira, sublinha a adaptação da equipa, até em termos técnicos. “Vi feridas que no mundo ocidental já não existem porque nunca se deixam as infecções avançar tanto. Tenho a certeza que a nossa actuação evitou várias amputações de membros.”
O médico acredita que, neste momento, o mais dramático na região da Beira é o elevado número de deslocados que vive em centros de acolhimento e não tem para onde regressar.
Também a Trust In News, empresa proprietária da VISÃO, se associou à campanha de solidariedade em benefício da Cruz Vermelha com o lançamento de uma edição especial que continua nas bancas, com o preço de capa de €2,5, que revertem para a missão em Moçambique.
O ciclone Idai afectou 1,7 milhões de pessoas em Moçambique e, de acordo com os números oficiais, causou 600 mortos.