“Quase todos os passageiros vomitaram” não é uma frase que a maioria dos turistas queira ouvir. Mas é uma citação direta do relatório dos pilotos, depois de um voo da United Express ter atingido turbulência extrema na aproximação a Washington, em 2018.
No ano anterior, nove passageiros e um membro da tripulação tinham sido hospitalizados após outro evento de turbulência extrema ter abanado o seu voo, entre a Cidade do Panamá e Houston, nos EUA.
Semanas antes disso, um outro voo que seguia de Orange County, na Califórnia, para Seattle atingia a uma turbulência tão súbita e tão ameaçadora que tanto o comissário de bordo, que servia bebidas, e o carrinho das mesmas foram bater contra o teto do avião. Resultado: um braço partido e três passageiros hospitalizados.
A descrição dos casos acima é de Sara Nelson, assistente de bordo há 23 anos, presidente de um sindicato que representa uma série de outros, e que parte destes episódios para contar ao mundo como as alterações climáticas afetam a segurança dos voos e dos empregos de quem anda no ar – tornando, lá está, a turbulência extrema cada vez mais frequente e intensa.
Os últimos estudos sobre o assunto dão-lhe razão: é já público que os níveis crescentes de CO2 na atmosfera causam interrupções nas correntes de jato (aquelas correntes de ar entre a troposfera e a estratosfera, descobertas durante as incursões aéreas da II Guerra Mundial) e também rajadas fortíssimas e, por isso, perigosas – provocando um aumento generalizado da turbulência nas latitudes moderadas onde ocorre a maioria das viagens aéreas.
E esta CAT, como é conhecida a turbulência do ar, explica a mesma Sara Nelson, que assina o artigo na Vox, é a mais perigosa: não só não pode ser vista como é indetetável com a tecnologia atual. Num momento, a viagem segue suavemente, no minuto seguinte, passageiros e tripulação já estão aos solavancos e a ser atirados ao ar – um cenário que só parece ter tendência para piorar, como avisou Paul D. Williams e a sua equipa da Universidade de Reading no Reino Unido: até meados do século, a CAT deverá mais do que duplicar.
Há também, claro, um custo económico. Neste momento, a turbulência já está a custar mais de 175 milhões de euros por ano às companhias aéreas, nos EUA, entre danos nos aviões e lesões a passageiros e tribulação. Será um número, vaticina ainda Sara Nelson, que deverá disparar à medida que aumentam os incidentes do género. E esse custo, cobrado aos consumidores, será ainda usado para justificar cortes nos salários.
No limite, remata aquela responsável da Associação Internacional de Assistentes de Bordo, se não combatermos isto, são empregos e – muitas – vidas que ficam em risco.