Foi o próprio site de fack-checking do jornal francês Libération (Libération CheckNews) que desvendou a questão ao analisar a existência de um grupo privado no Facebook para responder à pergunta de um leitor. “A ‘Liga do LOL’ existiu mesmo e perseguiu feministas nas redes socais?” foi a pergunta dirigida ao site.
A resposta não tardou e foi publicada com estrondo na passada sexta-feira, dia 8. Não só existiu como dois jornalistas do Libération – agora suspensos até terminar uma investigação interna – faziam parte dela.
Esta “Liga do LOL” (“Ligue du LOL”, no original) foi criada pelo jornalista do Libération Vincent Glad em 2009. Era um grupo fechado no Facebook constituído por cerca de 30 pessoas, maioritariamente homens, das redações parisienses, da publicidade e do mundo da comunicação.
“É difícil, por agora, contar as vítimas da “Liga do LOL”. Durante três dias, os testemunhos multiplicaram-se. Mas é possível traçar um primeiro retrato dos alvos privilegiados dessas campanhas de cyberstalking: mulheres, feministas, jornalistas, bloguers, youtubers em início de carreira, membros da comunidade LGBT ou homens que não têm determinados critérios de masculinidade”, escreveu o jornal francês.
Estes testemunhos têm sido publicado no Twitter por pessoas que se sentiram ofendidas e humilhadas por este “clube de rapazes” que fazia montagens de fotografias pornográficas com as caras dos seu alvos e criava memes para gozar com a sua aparência.
Vincent Glad e o número três do site do Libération, Alexandre Hervaud, que também fazia parte deste grupo do Facebook, foram suspenso ontem pela direção do jornal até a investigação interna estar concluída. “Não temos nada a esconder”, afirmou Laurent Joffrin, diretor da publicação.
Glad já pediu desculpa publicamente através do Twitter e diz que criou um “monstro” que lhe escapou. “O objetivo do grupo não era incomodar mulheres, mas apenas divertirmo-nos. Mas, rapidamente, essa maneira de nos divertirmos tornou-se problemática e não percebemos isso. Pensávamos que todos os que estão na internet, através de um blogue, uma conta no Twitter ou outra coisa, mereciam ser ridicularizados”, escreveu Glad. Acrescentou, ainda, que não sabia que isso poderia “tornar-se um inferno para as pessoas-alvo”.
Já Hervaud desculpou-se dizendo que a Liga não teve como objetivo “coordenar campanhas de ódio contra ninguém. Embora isso não sirva para minimizar ou negar a evidência. O espírito permanente de troça e cinismo do grupo obviamente influenciou as ações de certos membros mais à parte, especialmente aqueles cobertos pelo anonimato, que, pelo efeito bola de neve, inspiraram outros internautas fora do grupo”. O jornalista admitiu que algumas das declarações das vítimas lhe tinham “literalmente dado o volta ao estômago ”.
Outros membro deste clube privado incluem David Doucet, editor chefe do site da revista cultural Les Inrockuptibles ou Christophe Carron, editor da versão francesa online da revista Slate.
Capucine Pior, ex-jornalista agora ligada ao marketing, diz, no Twitter, que foi vítima desta Liga através de várias fotomontagens e vídeos que criticavam a sua aparência. “Foi muito difícil para uma rapariga ainda em crescimento. Depois de ler tanta porcaria sobre mim mesma… estava convencida de que não valia nada”, escreveu.
“Aqueles tipos julgavam que estavam a fazer piadas, mas estavam a arruinar as nossas vidas”, twettou uma vítima, citada pelo The Guardian, que quer manter o anonimato.
O bloguer Matthias Jambon-Puillet disse, num texto publicado no site Medium, que recebeu insultos anónimos sobre ele e sobre o seu trabalho, “gravações trocistas”, que colocaram comentários sexistas no site de amigos em seu nome e fotomontagens, incluindo uma em que ele estaria a fazer sexo que foi enviada para menores de idade.
O Libération continua a receber mensagens de vítimas deste grupo criado no Facebook.