Os dias de frio gélido foram interrompidos a meio da semana por um ar abafado que trouxe um calorzinho já bem conhecido. O céu enche-se de nuvens, a anunciar chuva, e as temperaturas mínimas sobem para valores mais agradáveis. Depois chove, o céu descobre e o frio regressa como se nada se tivesse passado – é o que está agora a acontecer e assim vai continuar nos próximos dias, com novos períodos de chuva à mistura.
Para entender o fenómeno do calor que antecipa certos períodos de precipitação – conhecido na gíria popular como “efeito de capacete” -, podemos pensar à escala de uma divisão das nossas casas. Se as portas e janelas estiveram fechadas, o espaço retém com mais facilidade o ar aquecido; se o ar tiver por onde sair, a temperatura desce necessariamente, ao misturar-se com o ar mais frio no exterior.
O que acontece nestes dias de céu muito nublado é um efeito idêntico. A densidade das nuvens não deixa que a energia libertada pelo planeta durante a noite se disperse pela atmosfera, evitando assim que as temperaturas mínimas desçam para níveis verificados quando o céu está limpo, como estava no início da semana.
Por outro lado, o próprio processo de formação das nuvens gera calor, provocado pela passagem da água do estado gasoso para o líquido.
Além disso, na terça e quarta-feira, o estado do tempo em Portugal esteve “sob “influência do ar quente do Norte de África, o que trouxe mais humidade”, explica Ilda Novo, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Foi este fenómeno que afastou o frio nesses dias. Por norma, para acontecer o “efeito de capacete”, é indispensável a existência de “uma massa de ar marítima tropical, que retém mais água e traz mais precipitação”, mas nem foi o caso desta vez, tanto que acabou por chover pouco. “Tivemos uma massa de ar marítima polar aquecida, digamos assim”, nota a meteorologista.
Depois da chuva, o céu desanuviou na quinta-feira. E não só desapareceu o efeito de estufa criado pelas nuvens como o vento se intensificou, agora sob a influência de uma “massa de ar mais fria”. Hora de voltar a tirar os casacos, as luvas e os gorros do guarda-roupa, se é que houve tempo para ao arrumar. “A sensação de frio aumenta nestas condições, mesmo quando a temperatura não baixa, e essa sensação vai manter-se nos próximos dias”, antecipa Ilda Novo.
Entretanto, as nuvens voltaram esta sexta-feira, mas a massa de ar fria não deixou que se sentisse o mesmo calorzinho de terça e quarta-feira. Por agora, a chuva não vai afastar o frio mais agreste. Os próximos dias serão de céu nublado e aguaceiros intercalados com períodos de sol.