Aos 90 anos, o cientista norte-americano co-responsável pela descoberta da estrutura em dupla hélice da molécula de ADN viu serem-lhe retirados, na semana passada, vários títulos honoríficos que recebeu ao longo da carreira, graças aos seus comentários na televisão. Num programa emitido no início deste mês, James Watson reiterou a sua convicção de que há diferenças de inteligência entre raças e que a genética o justifica.
O Laboratório Cold Spring Harbor, de que foi diretor e mais tarde presidente (cargo que deixou em 2003), já se demarcou destas declarações, que classifica como “opiniões pessoais sem fundamento e irresponsáveis”.
A primeira vez que James Watson manifestou este seu polémico ponto de vista foi em 2007, em declarações ao Sunday Times, para justificar a sua posição “sombria” sobre África: “Todas as nossas políticas têm por base o facto de a inteligência deles ser a mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que não é bem assim.” Na altura, o geneticista chegou ao ponto de dizer que, embora “esperasse” que todos fossem tratados de forma igual, “as pessoas que têm de lidar com funcionários negros sabem que isto não é verdade”.
Watson acabou por pedir desculpa e retratar-se, mas abandonou o cargo de chanceler que ocupava no laboratório.
Agora, está em causa o documentário da PBS que foi para o ar no dia 2 de janeiro, em o cientista vai mais longe e afirma que as diferenças de QI entre caucasianos e outras raças se refletem no ADN.
Para o Cold Spring Harbor, que ainda tem uma escola com o seu nome, estas considerações “revertem” o pedido de desculpas de 2007 e, por isso, a insituição decidiu retirar ao seu ex-dirigente três títulos honoríficos.
James Watson recebeu o Prémio Nobel da Medicina com Maurice Wilkins e Francis Crick, em 1962, pelo “modelo de dupla hélice” para a estrutura da molécula de ADN, mas, depois de anos no papel de persona non grata dentro do meio científico e não só, acabaria por leiloar a sua medalha em 2014, por mais de 3,5 milhões de euros.
Atualmente, o biólogo encontra-se internado, a recuperar de um acidente de viação, em outubro. À Associated Press, o filho adianta que a sua perceção do que o rodeia é “mínima”.