O último Achatinella apexfulva conhecido morreu no primeiro dia do ano, depois de uma vida solitária que lhe valeu o nome “Lonely George” (George solitário), em homenagem à tartaruga que morreu em 2012 nas Galápagos e que também era a última da sua espécie.
O caracol nasceu e viveu em cativeiro, na Universidade do Havai, depois de, em 1997, conforme explica no Facebook o Departamento de Terras e Recursos Naturais do Havai (DLNR), os últimos 10 Achatinella apexfulva conhecidos terem sido levados para o laboratório numa tentativa de salvar a espécie
Os Achatinella apexfulva são hermafroditas mas são precisos dois para se reproduzirem. “Ainda nasceram alguns bebés”, explicam os cientistas, mas acabaram por morrer todos por razões que ninguém consguiu identificar. Todos, menos um.
Os responsáveis do DLNR consideram a morte de George “uma perda significativa” até para a comunidade, já que era visitado por centenas de alunos das escolas locais.
A morte de George volta a virar as atenções sobre o problema alargado que se vive nas florestas havaianas há mais de um século. Segundo a National Geographic, registos do século XIX mostram que era possível apanhar 10 mil caracóis só num dia. “Tudo o que abundante na floresta, é parte integrante dela”, resume o biólogo Michael Hadfield à mesma publicação, destacando o papel de ajudar a decomposição da matéria das plantas e o consumo de fungos das folhas.
No início do século seguinte, no entanto, algumas espécies extinguiram-se. Cinco décadas depois, os cientistas introduziram uma espécie “estrangeira”, os Euglandina rosea, conhecidos como “caracóis canibais” para tentar controlar uma invasão dos caracóis africanos Achatina fulica. O plano resultou ao contrário e as espécies nativas revelaram-se muito mais apetitosas. Juntem-se os ratos que chegaram à ilha de barco e a destruição do seu habitat e estavam lançados os dados para a extinção.
“Porcos, cabras e veados degradam a vegetação da floresta e fragmentam as populações de caracóis”, explica David Sischo, do Programa para a Prevenção da Extinção de Caracóis.
“Só víamos os caracóis desaparecer, desaparecer, desapacer”, lamenta, por seu lado, Michael Hadfield ao The Guardian.
E agora, outro George? Os biólogos guardaram ADN de George e Hadfield não põe de parte a possibilidade de “um dia”, usá-lo para “recriar um George”.