É preciso recuar 2 700 milhões de anos para chegar ao momento em que a atmosfera terrestre começou a acumular oxigénio, produzido por cianobactérias (vulgarmente designadas algas azuis) que viviam nos oceanos e eram capazes de realizar a fotossíntese.
A produção de oxigénio foi fundamental para o aparecimento de vida na Terra. Não surpreende, assim, o entusiasmo da comunidade científica perante a possibilidade de haver O2 suficiente em Marte para manter alguns microrganismos vivos.
A Agência Espacial Norte-Americana (NASA), juntamente com o Instituto Tecnológico da Califórnia, desenvolveu um modelo de análise teórico capaz de calcular a quantidade de oxigénio dissolvido nas águas salgadas que se suspeita existirem em algumas zonas do planeta vermelho. Os sais presentes nestas salmouras permitirão que a água permaneça líquida mesmo a temperaturas abaixo dos zero graus centígrados.
De acordo com o estudo, publicado na Nature Geoscience, cerca de 6,5% da área do planeta poderá albergar oxigénio (à superfície ou a escassos centímetros de profundidade) suficiente para manter alguns micróbios e poríferos (esponjas) vivos. Estudos recentes indicam, precisamente, que as primeiras formas de vida na Terra eram poríferos, seres vivos capazes de proliferarem mesmo com concentrações de oxigénio muito baixas.
Os locais onde é mais provável a existência de oxigénio estão situados próximo dos pólos de Marte. Até agora, só uma missão espacial explorou essas regiões. Há dez anos, a sonda Phoenix aterrou em cima de uma possível cobertura de gelo de água. Na mesma altura, descobriu-se um grande lago de água salgada, oculto sob gelo, próximo do pólo sul.
Agora, o novo estudo conduzido pela NASA especula que a concentração de oxigénio no interior do lago possa ser elevada, se houver contacto com a superfície ou radiação suficiente para provocar a separação do oxigénio e do hidrogénio.
Da teoria à realidade
Os cientistas consideram que estes resultados teóricos podem explicar o estado de oxidação de algumas rochas marcianas, já que o O2 oxida os metais. Além disso, também podem implicar o aparecimento de vida baseada no oxigénio, em Marte ou em outros corpos planetários, devido a fontes de oxigénio alternativas à fotossíntese.
Até agora, a presença de oxigénio em Marte sempre fora desconsiderada devido à sua baixa concentração. Na verdade, os microrganismos não precisam de oxigénio para respirar, mas a sua presença aumenta a possibilidade de se desenvolverem novos metabolismos mais eficientes.
A investigação não insinua que as bactérias e poríferos existam atualmente em Marte, apenas as usa como termo comparativo com o planeta Terra, ou seja, com a concentração de oxigénio que calculam existir nas salmouras marcianas, seria possível estes microrganismos sobreviverem.
A existência de vida nas bolsas de líquido, camufladas no gelo de Marte, não dependeria apenas da concentração de oxigénio, mas também das baixíssimas temperaturas, da altíssima concentração de sais e da radiação que, atualmente, não permitem a existência de vida similar à terrestre na superfície do planeta vermelho.
O estudo também não confirma cabalmente a existência de salmouras de água líquida na superfície de Marte, os dados acumulados ainda não são suficientes para obter resultados conclusivos.