Depois de um novo estudo ter sido discutido, recentemente, na Sociedade Europeia de Cardiologia, em Munique, e publicado pelo The New England Journal of Medicine, a lorcaserina está a ser tratada como se da nova pílula de emagrecimento se tratasse. Para os investigadores este é o primeiro medicamento seguro para auxiliar na perda de peso, com uso a longo prazo, sem efeitos na saúde do coração. Tomado duas vezes por dia é um inibidor de apetite que funciona estimulando substâncias químicas cerebrais para induzir uma sensação de saciedade, reduzindo o consumo de alimentos.
Aprovada nos Estados Unidos da América desde 2012 pela Food and Drug Administration (FDA), a agência de medicamentos americana, a lorcaserina tinha inerente alguns riscos. “Havia preocupações sobre possíveis riscos de doença oncológica a longo prazo, de distúrbios psiquiátricos, nomeadamente a depressão, e de doença valvular cardíaca, que deram origem à opinião de que os benefícios [a perda de peso] não superariam os riscos, e por isso o seu pedido de autorização de introdução no mercado foi retirado na Europa”, explica Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Agora, este estudo coloca de novo em cima da mesa a importância de saber se há interesse em pedir a resubmissão da autorização na Europa.
A investigação avaliou 12 mil pessoas obesas e com excesso de peso, dando a um grupo comprimidos e a outro placebo (medicamento composto por substâncias inativas). Uma percentagem de 38,7 dos participantes que tomaram o comprimido perderam 5% do peso, após um ano, em comparação com 17,4% que receberam um placebo. Do total que tomou lorcaserina, 8,5% desenvolveu níveis de diabetes, contra 10,3% que tomaram placebo. Num ano, a mudança média de peso foi de menos 4,2 kg no grupo de lorcaserina e menos 1,4 kg no grupo de placebo. Durante esses 12 meses, os pacientes no grupo da lorcaserina tiveram uma redução maior em relação ao valor basal no Índice de Massa Corporal (IMC) e no perímetro abdominal do que os do grupo do placebo. Análises posteriores em 3 270 participantes não mostraram diferenças significativas nos testes para danos na válvula cardíaca. A conclusão é positiva: As maiores taxas de perda de peso foram alcançadas sem um aumento no risco de episódios cardiovasculares.
Faltam fármacos para tratar a obesidade
A lorcaserina tem uma estrutura muito semelhante à dexfenfluramina, medicamento que já foi comercializado, quer nos Estados Unidos da América, quer na Europa, e que também foi retirado. “A lorcaserina é mais seletivo, atua a nível do sistema nervoso central, ativando determinados recetores do hipotálamo. O facto de estes fármacos serem mais seletivos para determinados recetores fazem com que tenham menos efeitos secundários e os mais frequentes associados à locarserina são as cefaleias, tonturas e náuseas”, esclarece Paula Freitas.
Jason Halford, especialista em obesidade da Universidade de Liverpool, afirmou ao Daily Telegraph que a disponibilidade do medicamento no Reino Unido já só está dependente da luz verde do Serviço Nacional de Saúde britânico. “Não temos inibidores de apetite disponíveis no nosso sistema. Existe um vazio enorme entre quem quer perder peso através de uma mudança de estilo de vida e a via da cirurgia”, referiu. E, em Portugal a situação repete-se. “Na verdade precisamos de mais fármacos para combater a obesidade, porque é uma doença crónica, grave e que traz muitas complicações. A nível europeu temos o orlistato, o liraglutida e, agora em Portugal, desde julho, temos uma combinação de naltrexona e bupropiona”, alerta a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.
Para a endocrinologista, a maior parte dos obesos apresentam uma obesidade exógena, ou seja, aquela que é causada pelo excesso de alimentos, mas entre 5% e 10% têm a doença por motivos hormonais ou outros. “Quem não tem causas tratáveis tem de se mentalizar que é uma doença para toda a vida e a base do tratamento é dieta, exercício e modificação do seu comportamento. Estes medicamentos são apenas um auxiliar para que a pessoa consiga ver resultados.”