Logo mais à noite, quando em Portugal o relógio marcar 21h20 GMT (23h20 CEST), o satélite Éolo (Aeolus, em inglês) será lançado para o Espaço, a bordo de um foguetão Vega da base espacial europeia de Kourou, na Guiana Francesa. Batizado com o nome do guardião dos ventos na mitologia grega, o Éolo parte 11 anos depois do inicialmente previsto, mantendo o objetivo da missão, aprovada pela Agência Espacial Europeia (ESA, em inglês), em 1999: recolher informações dos ventos de todo o planeta.
Será, praticamente, em tempo real que o satélite irá recolher e monitorizar dados em diferentes partes do mundo, um verdadeiro complemento para os sistemas meteorológicos que já existem. Este satélite de quatro metros de comprimento, com painéis solares de lado e um telescópio na frente revestido com material dourado, ficará no espaço durante os próximos três anos. Com 1 450 quilos, o Éolo ficará a 320 quilómetros de altitude, viajará a 27 mil quilómetros por hora e completará cerca de 16 órbitas por dia.
Até 2021, irá recolher informações que, no fundo, servirão para compreender melhor como a atmosfera funciona, garantindo uma maior fiabilidade das previsões meteorológicas e da qualidade do ar, qual o papel do vento na temperatura e no clima, medir o vento em zonas menos observadas, como os trópicos, os oceanos ou as áreas polares. Será também viável estudar todos os tipos de alterações climáticas, desde o aquecimento global até aos efeitos da poluição (do transporte transfronteiriço de poluentes ou de cinzas vulcânicas), bem como ajudar na previsão meteorológica de fenómenos extremos como o El Niño. Os dados recolhidos não serão descurados na produção de energia eólica, na proteção de culturas e pescas e no planeamento de construções.
O satélite carrega o Aladin, um instrumento que tem uma tecnologia de deteção e localização que funciona através de ondas de luz e designa-se por Lidar (Light Detection and Ranging) que, combinando dois poderosos lasers, um “grande telescópio e recetores extremamente sensíveis, é um dos instrumentos mais avançados já colocados em órbita”.
Segundo a ESA, o satélite dispõe de tecnologia laser de ponta que irá permitir medir os ventos terrestres e obter informações sobre as nuvens, ao descer aos 30 quilómetros mais baixos da atmosfera.
O engenho irá disparar pulsos de luz ultravioleta (invisível) na atmosfera da Terra, um método considerado inovador para estabelecer o perfil de ventos a partir do espaço.
A missão faz parte do programa de Observação da Terra da ESA e a bordo seguem componentes portugueses. Duas empresas aeroespaciais nacionais, LusoSpace e Omnidea, participaram na construção do satélite europeu.
A LusoSpace concebeu os dois magnetómetros do satélite, instrumento utilizado para medir a intensidade, a direção e o sentido de campos magnéticos, que permitirá fazer o mapeamento do campo magnético da Terra em detalhe. “Serão os primeiros instrumentos a serem usados a seguir ao lançamento”, explicou à Lusa Ivo Yves Vieira, diretor-executivo da empresa. “São elementos muito críticos que devem funcionar na perfeição de modo a dar medidas fiáveis da orientação do satélite e, assim, permitir que estabilize os painéis solares para o Sol e as antenas de comunicação para a Terra.”
Já o grupo Omnidea, que tem realizado projetos para a ESA desde 2006, desta vez produziu e testou as válvulas que asseguram a limpeza da componente ótica do Aladin, o principal instrumento do satélite. A válvula faz parte do sistema de limpeza in-situ que assegura o isolamento dos diferentes componentes do sistema de purga do Aladin, alternadamente isolando o tanque do sistema de alimentação (posição 1), ligando o sistema alimentação aos elementos de limpeza (posição 2) ou sendo colocada na sua posição final em que permite a comunicação do tanque com o sistema de alimentação (posição 3, assumida antes do lançamento e na qual a válvula permanecerá toda a missão do Aeolus). Foram produzidas seis unidades, num projecto que decorreu entre 2011 e 2013, cujo valor rondou os 110 mil euros.