No Dubai, está por meses a inauguração do primeiro hotel com floresta tropical e, em 2020, abre no emirado o primeiro resort flutuante, com quartos e receção debaixo de água e com o heliporto numa réplica da Praça de São Marcos, o coração turístico de Veneza. Nos Estados Unidos da América, a cidade de Las Vegas já disponibiliza uma suíte com pista de bowling e outra com campo de basquetebol. No México, uma aplicação para iPad permite ativar fogo de artifício com o Pacífico em fundo. Nas Maldivas, um complexo de bungalows sobre a água oferece escorregas generosos desde o andar superior. No Japão, há robôs em forma de dinossauro no papel de rececionistas, num hotel de três estrelas. Em Singapura, um braço robotizado faz ovos estrelados num quatro estrelas. Na China, decorrem testes na cadeia Marriott para identificar clientes por reconhecimento facial, com a ajuda de uns óculos especiais. Para as Filipinas está projetado um complexo ecológico autossustentável com edifícios que se movem ao ritmo da luz solar.
Com mais ou menos tecnologia envolvida – e não haja dúvida de que estará cada vez mais presente –, a grande aposta dos hotéis para os próximos anos é marcar a diferença em relação à concorrência. Proporcionar o que nenhum outro consegue. A competição está aí e, como os casos acima ilustram, desenrola-se à escala global. “Toda a gente quer ser única em algo”, nota Felipe Ávila da Costa, diretor-geral da Hotel-Up, uma empresa que reúne cinco startups portuguesas que desenvolvem tecnologias para melhorar a gestão hoteleira, da energia aos recursos humanos. Ao fim de dois anos de atividade, fornecem 600 hotéis, metade dos quais no estrangeiro. “Há dois caminhos opostos a serem seguidos: o dos três estrelas, em que os clientes entram e saem sem haver praticamente contacto com funcionários, e outro, mais visto nos de quatro e cinco estrelas, em que se estabelece uma relação forte e personalizada.”
Experiências para encantar
A inovação tecnológica joga um papel decisivo em qualquer dos casos, a começar no momento do check-in. Ao mesmo tempo que surgem os primeiros alojamentos em que a chegada é validada por uma máquina, adivinham-se para um futuro próximo soluções em que o rececionista, por via de tecnologia de reconhecimento facial, conhece de antemão o nome do cliente que tem à frente e os seus principais interesses. Uma interação de proximidade que tanto pode resultar de informação partilhada no momento da reserva como do acesso prévio à pegada digital desse cliente.
Nos quartos, o serviço personalizado pode traduzir-se numa aplicação de acesso direto à receção, que deixará qualquer pedido extra à distância de uma mensagem escrita. Se precisar de uma escova de dentes, por exemplo, não se admire se lhe aparecer um robô à porta – já os há a fazerem estas entregas simples. Também é garantido que será uma realidade controlar por voz a iluminação, a temperatura, o volume da televisão ou a abertura das cortinas. Se deixar algum equipamento ligado quando sair, o sistema será capaz de o detetá-lo e de desligá-lo para poupar energia. Já as paredes espelhadas e interativas vão poder ser virtualmente decoradas com os seus quadros preferidos ou exibir a informação útil que procura. “Só falta haver sensores nas camas a indicar se estão uma ou duas pessoas deitadas”, brinca o arquiteto André Caiado, que aos 51 anos já desenhou quase uma dezena de hotéis em Portugal.
O diretor do atelier Contacto Atlântico sublinha que o turista de hoje procura “experiências e encantamento”, daí a relevância de conceitos únicos que façam os hotéis sobressair num mercado com muita oferta. Um dos seus atuais clientes, avança, prepara-se para investir num projeto em Lisboa alicerçado num chefe com três Estrelas Michelin. Como aliciante acrescido, dará cursos a alguns frequentadores do espaço.
É uma tendência internacional. Cada vez mais, os hotéis diversificam as suas valências, e nos próximos anos é de esperar um envolvimento maior com as comunidades locais, numa tentativa de seduzi-las para os seus espaços públicos, prevê a empresa de arquitetura CallisonRTKL, que atua a nível global. Portugal parece não fugir à regra. Karina Simões, vice-presidente do grupo imobiliário JLL para esta área, adianta que uma marca francesa de restaurantes e aluguer de quartos vai abrir portas em Lisboa, precisamente com a ideia de juntar turistas e lisboetas nas suas áreas comuns. Um conceito a crescer. “São cadeias que apostam em ambientes requintados, mas casuais, a pensar nos millennials.”
Exemplo português
É esta geração nascida entre 1980 e meados dos anos 90 que está a mudar a forma de abordar o turismo. Os millennials foram os primeiros a crescer num ambiente tecnológico e, agora que estão integrados no mercado de trabalho e têm capacidade financeira, representam mais de um terço dos viajantes. As estimativas apontam para que em 2020 ultrapassem a fasquia dos 50% do total de turistas. Não há hotel que possa desprezá-los.
Habituados desde jovens aos smart- phones, aderem com facilidade às evoluções tecnológicas. Aderem é eufemismo. Alguns não vivem sem elas, a ponto de programarem todas as viagens via telemóvel. Foi a pensar nisso que Tiago Araújo, 29 anos, ele próprio um millennial, criou com dois amigos uma solução de resposta imediata às dúvidas de quem está a planear uma fuga da rotina. Disponível em 24 línguas, o chatbot da sua startup, a HiJiffy, recorre a tecnologia de Inteligência Artificial para simplificar processos. Nos últimos seis meses, 77% das questões levantadas pelos viajantes nos sites dos hotéis que contrataram o serviço foram respondidas de forma automática, 24 horas por dia, sete dias por semana. As restantes 23% foram encaminhadas para os hotéis, aos quais o sistema da HiJiffy solicita o esclarecimento. “O atendimento ao cliente na área das viagens está um caos, e com o nosso chatbot conseguimos ajudar”, diz o cofundador da startup, que está presente em nove países e, na primeira metade do ano, garantiu duas mil reservas para cadeias como a Porto Bay e para a plataforma Uniplaces.