É o chamado falso amigo, nome que não podia ser mais adequado: uma palavra estrangeira que nos soa tão próxima a outra na nossa própria língua que a usamos com toda a confiança, e com confiança falhamos rotundamente – porque afinal o significado não é o que julgávamos. E há poucas coisas mais humilhantes do que um falhanço confiante.
Foi o que aconteceu esta quarta-feira a Emmanuel Macron, durante uma visita de estado à Austrália. No final de uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro australiano, em Sidney, o presidente francês decidiu agradecer ao anfitrião e à sua “deliciosa mulher” – “Thank you and your delicious wife for your warm welcome” (Agradeço-lhe e à sua deliciosa mulher pela calorosa receção).
Algumas pessoas bem intencionadas sugeriram que o percalço linguístico de Macron já estava a pensar no almoço. Outras, mais maldosas, viram aqui um alusão à grosseria de Donald Trump para com a primeira-dama de França, o ano passado, ao dizer que Brigitte estava “em boa forma… Linda”. Mas a explicação mais provável é mesmo o falso amigo: Macron terá usado a palavra “deliciosa” com a conotação francesa – délicieux, quando utilizado para pessoas, tem o significado de agradável.
Mas Macron, que até fala bem inglês, está longe de ser o primeiro político a cometer uma gaffe. Recordamos aqui outros.
“Infelizmente, não há recibo, recibo [receipt]… Percebem? Propostas científicas para o crescimento.” – José Sócrates numa palestra na Universidade de Columbia, EUA, em 2010, a tentar explicar que não há uma receita (“recipe” e não “receipt”) para o crescimento
“Lamento pelo tempo” (I’m sorry for the time) – Nicolas Sarkozy para Hillary Clinton, a querer falar do tempo meteorológico (que seria weather, em inglês) mas a sair-lhe outro tempo (time)
“Quero-te” – Tony Blair, então primeiro-ministro britânico, para Lionel Jospin, seu homólogo do outro lado do Canal da Mancha – Blair, que sabe falar francês, queria dizer “invejo-te” (Je vous envie), mas saiu-lhe “J’ai envie de vous” (quero-te)
“Desejo carnalmente os polacos” – Tradução muito livre que o intérprete de Jimmy Carter fez de uma frase sua na sua visita oficial à Polónia. O presidente dos EUA tinha dito “Vim aqui conhecer os vossos desejos para o futuro”.