Já lá vão quatro anos desde que o uso de cigarros eletrónicos teve uma aumento exponencial em Portugal. Nesse ano de 2014, abriram mais de 200 lojas que vendiam os inaladores e os líquidos de vários sabores. Houve uma grande adesão a esta nova forma de fumar, ou melhor, vapear, até porque um frasco de líquido de 10ml, que equivalia a cinco maços de tabaco, custava cerca de €6. Os cigarros eletrónicos careciam, nessa altura, de regulamentação e legislação. Mais tarde, quando os impostos aumentaram e os líquidos passaram a ser vendidos em separado (um frasco tinha o líquido com sabor e outro a nicotina líquida para acrescentar), as dezenas de lojas começaram a evaporar-se. Passou a ser bem mais caro inalar e, aquilo que parecia uma moda na altura, foi, como quase todas elas, desvanecendo-se.
Hoje, são muito menos as lojas que vendem cigarros eletrónicos e os respetivos líquidos. Mas o que nunca foi bem esclarecido foram os reais efeitos de vaporizar. Faz menos mal que o cigarro convencional? Serve para deixar de fumar? É cancerígeno? Em 10 anos – o cigarro eletrónico com sucesso considerável foi inventado em 2007 , mas só em 2008 começaram a ser escrutinados – foram feitos dezenas de estudos com resultados diferentes e mesmo contraditórios.
Façamos uma viagem no tempo para esmiuçar algumas das investigações realizadas ao e-cigarro e ao líquido que contém várias substâncias, incluindo o propileno glicol e glicerina vegetal que estão em maior percentagem e que, juntos, originam a névoa/vapor e o heat (sensação) provocado pela passagem da inalação na garganta.
Explicação: são, ambos, compostos orgânicos. O propileno glicol é usado, por exemplo, em medicamentos, cosméticos, pasta de dentes ou na composição do “fumo” utilizado em discotecas e concertos; a glicerina é utilizada na indústria cosmética e alimentar.
2008
– A Organização Mundial de Saúde ordena que os promotores dos cigarros eletrónicos deixem de anunciar que “são uma forma segura para deixar de fumar” porque não há evidências que o comprovem.
– Um produtor de cigarros eletrónicos encomenda um estudo cujo resultado refere que vaporizar é menos cem a mil vezes perigoso do que fumar, ao mesmo tempo que afirma que, ao usar o seu dispositivo, a “nicotina, aparentemente, não é absorvida pelos pulmões, mas pelas vias aéreas superiores”.
2010
– A Food and Drug Administration (FDA) – a agência norte-americana responsável pela proteção e promoção da saúde pública através do controlo e supervisão da segurança alimentar, produtos de tabaco, vacinas ou medicamentos – desaconselha o uso destes aparelhos por conterem substâncias cancerígenas e diz que os sabores dos líquidos, como chocolate, baunilha ou pastilha elástica, são um fator chamativo para os adolescentes experimentarem.
– Os produtores replicam e dizem que os níveis de substâncias como o propileno glicol são semelhantes aos dos adesivos ou pastilhas para deixar de fumar aprovadas pela FDA.
– No fim do ano, algumas empresas online, como a Amazon e o Paypal, fazem algumas restrições à venda de cigarros eletrónicos.
2011
– Uma pesquisa indica que os norte-americanos são os mais interessados em vaporizar. A Google esclarece que foi nos EUA que as palavras cigarros eletrónicos (e-cigar) foram mais pesquisadas.
– Um inquérito a cerca de 3 500 vapers conclui que os utilizadores usam os cigarros eletrónicos por acharem que fazem menos mal do que o tabaco, são mais baratos e os vão ajudar a largar o vício. A maior parte das pessoas diz recear que, ao deixar de vaporizar, retorne de novo aos cigarros convencionais.
2012
– O Centro de Controlo de Doenças americano anuncia que o uso de cigarros eletrónicos duplicou entre os adolescentes de 2011 para 2012 e receiam que este seja o tiro de partido para os miúdos começarem a fumar.
– Investigadores ingleses analisaram 16 marcas de e-cigarros e descobrem que as variações de nicotina por cada baforada vão dos 0,5 às 15,4 miligramas, enquanto uma baforada de um cigarro convencional está entre as 1,54 e as 2,60 mg.
2013
– Alguns estudos demonstraram evidências mínimas de que os e-cigarros ajudam a deixar de fumar.
– Outra investigação sobre deixar o vício relata que os utilizadores de e-cigarros são muito menos propensos a deixar de fumar depois de terem experimentado os cigarros eletrónicos, em comparação com os participantes que nunca experimentaram.
2014
– O Centro de Controlo de Doenças americano revela que as chamadas telefónicas a pedir ajuda para intoxicações devido aos líquidos dispararam de uma por mês em 2010, para 216 por mês em 2014. Mais de metade das chamadas estavam relacionadas com crianças de idade inferior a cinco anos que ingeriram, inalaram ou que a sua pele ou olhos estiveram em contacto com o líquido que se vapaeia.
– Uma pesquisa com 75 mil coreanos adolescentes chega à conclusão que a utilização de e-cigarros está fortemente associada ao tabagismo. Ao mesmo tempo, nos EUA, os vapers adolescentes aumentaram de 4,5% em 2013, para 13% em 2014.
2015
– Estudo indica que os líquidos dos e-cigarros contêm cádmio, níquel e chumbo, mas em quantidades nove a 450 vezes menores do que nos cigarros tradicionais. Além de que o efeito do propileno glicol e seus derivados no funcionamento dos pulmões é menor do que o do tabaco. No entanto, avisam que não têm dados sobre os risco de cancro a longo prazo e doenças cardiovasculares.
– O propileno glicol é alvo da preocupação por não haver estudos que indiquem quais os riscos quando inalado repetidamente.
2016
– Os cigarros eletrónicos potenciam aquilo que pode ser o início do vício do tabaco entre os jovens.
– Os adolescentes que utilizam os vários sabores dos líquidos tendem a pensar que o tabaco não faz assim tão mal.
2018
– Em fevereiro, investigadores da George Town University e do Center for Tobacco Control Research and Education, ambos nos EUA, descobriam, através de uma pesquisa com 70 mil pessoas, que o uso diário de e-cigarros duplica o risco de ataque cardíaco em comparação com quem não fuma ou vapeia. E, se os vapeadores, consumirem cumulativamente tabaco, o risco aumenta cinco vezes. É que, apesar de os e-cigaros conterem níveis menores de substâncias cancerígenas que os cigarros tradicionais, têm partículas ultrafinas e outras toxinas habitualmente ligadas ao aumento do risco de doenças cardiovasculares.
– Outro estudo demonstra que a probabilidade de jovens que experimentam cigarros eletrónicos se tornarem fumadores convencionais é duas vezes maior.