A Universidade de Stanford desenvolveu um aparelho capaz de detetar um “momento de fraqueza” e ajudar à sua prevenção. O implante reconhece como alvo o hipotálamo – a região do cérebro que controla os instintos de sobrevivência ligados à comida e ao sexo – e pode ajudar a prevenir comportamentos impulsivos como agressões sexuais, suicídios e ataques de raiva, assim como a compulsão de consumir drogas, álcool e até comida.
Os cientistas da Universidade descobriram que o cérebro envia um sinal específico segundos antes de agirmos por impulso e que esse sinal provoca uma sensação de desejo incontrolável que elimina as inibições da pessoa em questão. Depois desta revelação, os investigadores praticaram experiências em ratos e perceberam que um pequeno choque podia contrabalançar o impulso de forma a levar o indivíduo a refletir sobre as consequências dos seus atos.
Os investigadores encontraram padrões semelhantes entre um rato que aprendeu a comer compulsivamente alimentos gordurosos e um homem que descobriu que iria receber uma quantia elevada de dinheiro. De seguida, os cientistas aplicaram um pequeno choque no hipotálamo do rato e de imediato o roedor foi impedido pelo próprio cérebro de ingerir apenas os alimentos com gordura. A ingestão dos restantes alimentos, o comportamento social e a atividade física não foram afetados. Esta experiência foi publicada no passado dia 18 de dezembro no jornal Proceedings of the National Academies of Sciences.
Casey Halpern, professor assistente de neurocirurgia e autor do estudo, comentou as descobertas: “Conseguimos identificar um marcador biológico em tempo real para o comportamento por impulso. Os impulsos são algo normal e absolutamente necessário para a nossa sobrevivência. Eles convertem os nossos sentimentos em ações concretas para poderes obter comida, sexo, sono e defesas contra rivais ou predadores.” No entanto, Casey alerta que estes impulsos podem revelar-se bastante perigosos.
O dispositivo funciona com a estimulação do cérebro e com um tipo padrão de tratamento aprovado pelo departamento de saúde e serviços humanos dos Estados Unidos da América. Já existiam aparelhos no mercado, voltados para a doença de Parkinson, que enviavam choques regulares para controlar os tremores mas este implante é o primeiro programado para responder aos sinais enviados pelo próprio cérebro e Casey Halpern acredita que o aparelho tem muito potencial visto que “ainda não existia nenhuma intervenção ao nível da neuroestimulação capaz de controlar comportamentos agressivos e perigosos porque até agora ninguém tinha conseguido encontrar uma característica no cérebro que pudesse ser usada como alvo para o aparelho”.
O autor da investigação acrescenta ainda que “o facto de termos visto um sinal semelhante antes de dois comportamentos diferentes, ambos destinados a obter recompensas – alimentos no caso dos ratos e o dinheiro no caso do ser humano – ao qual os indivíduos se tornaram hipersensíveis após exposição repetida sugere que este sinal pode ser comum a muitos comportamentos impulsivos, tornando-os acessíveis ao tratamento em linhas semelhantes”.
O método pode vir a combater obesidade, abuso de substâncias, vício de jogo, dependência sexual e transtorno explosivo intermitente – também conhecido por síndrome de Hulk é uma condição psiquiátrica marcada por comportamentos agressivos impulsivos (não premeditados) e completamente desproporcionais à situação que os provoca.