Há cinco anos, Rui Vasques andava às voltas com uma investigação em design de produção industrial para a sua tese de mestrado no IADE. Na altura, criou um modelo social auto-suficiente: uma eco-aldeia feita com base na construção local, na produção local de recursos e na auto-suficiência energética. Um trabalho que mereceu 20 valores e a distinção de melhor aluno, ganha agora forma num projeto social. Depois de se ter associado a movimentos ecológicos e ter percebido melhor o que é ser empreendedor social, Rui Vasques, 29 anos, criou uma organização que “quer resolver os problemas da sociedade” – assim nasce a Live With Earth, que em inglês significa “viver com a terra”. É precisamente isso a que se propõe ao organizar a sexta edição do IFAC – Festival Internacional de Arte e Construção, pela primeira vez em Portugal, depois de quatro edições em Espanha e uma na Holanda. O programa foi definido com base na necessidade de “mudar consciências para as problemáticas mundiais da sociedade em geral, dar mais competências às pessoas para utilizarem a terra como matéria-prima para construir e produzir e com esses exemplos locais promover a sustentabilidade global”, explica Rui.
Durante dez dias, de 17 a 27 de agosto, na área protegida da Serra do Socorro e Archieira, em Torres Vedras, há lugar para muita experimentação, construção, música e bailes. O facto de Torres Vedras ter recebido, em 2015, o prémio europeu Green Leaf, passando a ser a primeira capital da economia verde da Europa, muito graças ao seu trabalho com as energias renováveis, a conservação das dunas e a produção agrícola e animal, foi determinante para a escolha do lugar.
Com o festival dividido entre dois terrenos na Serra do Socorro, uma zona será para a construção, a outra para as terapias naturais. Depois de terem sido lançados concursos públicos nas universidades, são as propostas enviadas que agora vão ser postas em prática. Durante o festival será construído um forno de barro comunitário para a aldeia da Cadriceira, mais uma estrutura que ficará na floresta a funcionar como “um amplificador dos sons da natureza”. Nos vários workshops agendados serão feitas peças de barro, de cerâmica e até de taipa, técnica ancestral de construção natural, que a par do tabique e do adobe ganha relevância no festival. Do Chile virá um coletivo de artistas para erguer um mural em argila e pigmentos naturais, uma intervenção artística que irá permanecer na vila. No festival vai ser possível juntar as técnicas ancestrais da agricultura e da construção às técnicas modernas. No artesanato, por exemplo, transformando a matéria-prima em utensílios e ferramentas; canas ou argila com vários tipos de misturas na construção natural, e também para a modelagem de barro; o macramé, técnica que usa tecido ou linhas para tapeçarias.
Rui Vasques já participou como artista em outros festivais do género, como o Boom, em Idanha-a-Nova ou o Andanças, em Castelo de Vide. Tocou num grupo de música espontânea, no Boom, e fez workshops de permacultura e de slack line (uma fita esticada e presa entre duas árvores, onde as pessoas tentam equilibrar-se), no Andanças. Essas experiências permitem-lhe explicar melhor as diferenças e semelhanças existentes entre os festivais. A maior semelhança do IFAC com o Boom e o Andanças “é a preocupação ética de ser um eco-festival, utilizando técnicas com o menor impacto ecológico possível. Toda a montagem do festival está a ser feita com a reciclagem de materiais e de matérias-primas de indústrias e de bens doados. Mas, enquanto o Boom é algo muito efémero, construído durante seis meses, usado durante uma semana e depois destruído, nós queremos criar algo que permaneça. Aproximam-nos do Andanças as bandas de bailes e a dança comunitária”, descreve Rui.
No fim dos dez dias de festival, este empreendedor social espera que as pessoas ganhem ferramentas para pôr em prática um estilo de vida mais simples e sustentável, criando uma maior ligação ao outro. No fundo, Rui Vasques quer que ao chegar a qualquer lado, as pessoas consigam identificar as matérias-primas, recolhê-las, misturá-las, utilizá-las na arte e na construção e, no fim, mantê-las.
IFAC – Festival Internacional de Arte e Construção
Serra do Socorro, Torres Vedras > 17-27 ago > 9h-24h > Bilhetes: €250 passe, €140/5 dias meio dia, €60/fim de semana, €30/dia, €10/criança > ifac.pt > livewithearth.org