As estatinas foram uma revolução na Medicina, baixando o colesterol no sangue e diminuindo muito o risco de problemas cardiovasculares. Milhares de pessoas devem a sua vida a estes medicamentos. Mesmo assim, os enfartes e os AVCs continuam a ser a principal causa de morte na Europa e na América.
Há casos em que nem a mudança de hábitos alimentares, prática de exercício físico e a adoção do dito estilo de vida saudável, o colesterol mau (o LDL, que se agarra às artérias) teima em não baixar. O que significa que estas pessoas continuam a ter um risco elevado de doença. Por razões genéticas, por exemplo, como é o caso da hipercolesterolémia familiar. Também há situações em que a pessoa não tolera as estatinas, devido aos efeitos secundários.
Para estes casos, está prestes a aparecer uma alternativa no mercado. Uma nova classe de medicamentos que mostrou ser eficaz, em doentes que já tomavam estatinas, mas que precisavam de baixar ainda mais os seus níveis de colesterol no sangue.
Num estudo publicado no New England Journal of Medicine, a molécula evolocumab reduziu o risco de ataque cardíaco em 27% e de AVC em 21%. Todos os participantes no estudo, 27 500, a nível mundial, eram doentes de risco, por já terem sofrido um episódio – ataque cardíaco, AVC ou doença arterial periférica. Em Portugal, participaram no ensaio clínico 273 doentes, num trabalho coordenado pelo cardiologista Jorge Ferreira, do Hospital de Santa Cruz.
O evolocumab já foi aprovado pela Comissão Europeia para todos os países, embora em Portugal não esteja ainda definido o regime de comparticipação. Como este é um medicamento da classe dos anticorpos monoclonais, tem de ser tomado através de uma ou duas injeções mensais, num dispositivo semelhante ao das canetas de insulina, para os diabéticos.
“Os doentes aderem com muita facilidade à toma por injeção”, sublinha o médico. “Pode haver alguma rejeição inicial, mas facilmente ultrapassável”, reforça.
Ricardo José Morais, 42 anos, está expectante relativamente à comparticipação do medicamento. É um doente de risco, por ter tido um enfarte aos 41 anos, logo a seguir a um treino de atletismo. Cumpre à risca todas as recomendações médicas, mas mesmo assim espera baixar ainda mais os seus níveis de gordura no sangue.
É conhecida há já muito tempo a relação entre o nível de colesterol e o risco cardiovascular. “Se eliminássemos o colesterol, diminuíamos para metade o risco cardiovascular”, explica Jorge Ferreira.
Quanto ao evolocumab, Jorge Ferreira prevê que venha a ser recomendado como tratamento de segunda linha, nos casos em que as estatinas sozinhas não são suficientes para um tratamento adequado.
De lembrar que um doente sem risco – que nunca teve nenhum evento cardiovascular – o nível de colesterol LDL não deve ultrapassar os 115. Nas pessoas de risco, que já sofreram algum problema deste foro, o limite são os setenta.