“Estou aqui para confessar um crime que cometi e pelo qual ele foi erradamente acusado.” É um argumento capaz de convencer Hollywood, mas teria de ser um filme baseado em factos verídicos. Aconteceu na semana passada, num tribunal de Chicago, Estados Unidos: Karl Smith declarou-se culpado da morte de um homem, em 2003, mas quem está a cumprir a pena de prisão de 54 anos é o seu irmão gémeo, Kevin Dugar.
Têm apelidos diferentes por Karl ter renunciado há uns anos ao do pai – adotando o sobrenome de solteiro da mãe, Smith -, mas as feições são muito parecidas e diz a progenitora que por vezes nem ela os reconhecia. Na quinta-feira, reunidos na mesma sala de um tribunal após vários anos sem se verem, ambos de cabelo rapado e barba aparada, distinguiam-se mais do que tudo pelas fardas de presidiário. Sim, Kevin está preso há 13 anos pelo crime que agora Karl confessou, mas Karl também está a cumprir pena de prisão desde 2008, devido a outro crime violento pelo qual foi condenado a 99 anos de prisão.
É neste ponto que à grande pergunta que decorre da confissão – será verdade? – os procuradores acrescentam outra: porquê agora? O timing intriga-os e eles assinalaram isso mesmo perante o juiz: Karl Smith recorreu da pena de 99 anos de cadeia e viu o tribunal negar-lhe a revisão da sentença. “Ele não tem nada a perder”, apontou a procuradora assistente Carol Rogala, em alusão ao facto de Karl enfrentar uma pena que na prática é uma perpétua.
Contra a versão que agora apresenta joga também o facto de nunca se ter disponibilizado para depor juntamente com o irmão, de modo a serem ambos confrontados com os acontecimentos de 2003, sobre os quais também nunca quis testemunhar. “Não consegui encontrar força para o fazer nessa altura”, justificou numa carta enviada ao irmão – citada pelo Chicago Tribune – a pedir-lhe desculpa por não ter assumido o crime desde o princípio.
Os dois irmãos, hoje com 38 anos, integravam um gangue que lidava com droga, contou Karl Smith na versão agora apresentada em tribunal. Segundo descreveu, na noite do crime abandonou uma festa para ir comprar marijuana com um amigo e, a dado momento, foi abordado na rua por dois membros de um gangue rival. Matou um, feriu outro e fugiu.
Perante os novos dados, cabe agora ao juiz decidir se irá conceder um novo julgamento a Kevin Dugar. A mãe dos gémeos, Judy Dugar, não sabe conduzir e não os via há anos. De acordo com os relatos da imprensa, passou o dia a chorar enquanto assistia a um a tentar ilibar o outro, e afirmou ao Tribune que Karl “não iria mentir sobre isto”. Judy ficou viúva há um mês. Isaiah Dugar morreu de ataque cardíaco, segundo ela de desgosto, por ver os dois filhos atrás das grades.
Depois de Kevin, Karl foi preso em 2008 na sequência de um roubo a uma casa, juntamente com mais três cúmplices. Embora tenham ambas sobrevivido, balearam duas pessoas, incluindo uma criança de seis anos.