Primeiro, em 2004, a burqa foi proibida nas escolas públicas francesas em conjunto com outros símbolos religiosos. Depois, em 2007, essa proibição estendeu-se aos espaços públicos. E, por fim, nos últimos meses, as cidades francesas começaram a impor a proibição do uso do burkini. Ao lado, na Alemanha, o governo pondera a proibição do uso de hijabs e niqabs em público.
O jornal The Independent juntou sete factos que deve saber sobre a proibição desta peça de vestuário:
Antes de ser banida, a burqa era extremamente rara em França
Explicação prévia sobre o que é a burqa: é um véu que cobre na totalidade o rosto e o corpo da mulher que o veste. É mais utilizada nos países do sul da Ásia e no Afeganistão. Nos países da península arábica, o traje mais frequente é o niqab, que tem uma abertura na zona dos olhos para os deixar visíveis.
Em 2009, a França avançou para a proibição de ambas, com Nicolas Sarkozy, então presidente da república, a definir os trajes como símbolos de “rebaixamento” e a declarar que não seriam bem-vindos ao país. As estimativas do Ministério do Interior francês apontavam para que cerca de duas mil mulheres francesas utilizassem o niqab. A população muçulmana do país na altura rondava os 4,5 milhões de pessoas. Atualmente, cresceu até aos 7,5 milhões.
Quem é multado costuma ser repetente no delito
A proibição não impediu as mulheres de saírem à rua vestidas com o niqab. Dados em França apontavam que, em 2015, 1546 multas tinham sido aplicadas ao abrigo da lei. A polícia não tem seguido a lei à letra devido a preocupações relacionadas com a ordem pública.
Só uma mulher foi multada 133 vezes por utilizar a vestimenta. Agnes de Feo, investigadora, diz que as mulheres que já vestiam o niqab o utilizam porque o veem como uma forma de se rebelarem contra o estado francês.
Na lei também existe uma multa pesada para o homem que obrigue a mulher a utilizar a burqa. Até hoje não há registo de alguém que tenha sido condenado a pagar a coima 30 mil euros prevista para tal ato.
Um empresário pagou muitas multas
Rachid Nekkaz, empresário de origem argelina, pagou pelo menos 1165 das multas passadas em França (até ao máximo de 150 euros por cada uma), 268 na Bélgica, duas na Holanda e uma na Suíça pelo uso da burqa. Nekkaz diz que já gastou cerca de 245 mil euros em advogados nestes casos. E acrescentou que graças ao fundo que utilizou “as mulheres já não têm medo de utilizar o niqab nas ruas”.
Número de mulheres que vestem a burqa aumentou
Os especialistas admitem que a lei, em vez de desmotivar as mulheres, encorajou-as a utilizar mais a burqa. Muitas das mulheres com quem a investigadora Agnes De Feo falou dizem que foram levadas a utilizar o véu por causa da lei. Algumas dessas mulheres tinham-se convertido recentemente ao Islão.
Quando confrontado com o facto, Rachid Nekkaz reforçou a ideia que utilizam mais mulheres a burqa em 2016 do que usavam em 2011. Aproveitou ainda para apelidar a lei de Sarkozy como “um falhanço”.
O burkini foi inventado… na Austrália
O burkini não é uma imposição da religião muçulmana e não foi criado no Afeganistão. Ao contrário da burqa, não tapa a cara. O burkini foi inventado por Aheda Zanetti, mulher de origem libanesa radicada em Sidney, na Austrália, que inventou o burkini com o propósito de ajudar as mulheres muçulmanas a integrarem-se na cultura australiana. Depois de ver a sua sobrinha a fazer desporto com um hijab tradicional, Zanetti sentiu-se impulsionada a fazer roupa desportiva mais prática para muçulmanos e criou a peça de vestuário.
O burkini ganhou mais destaque depois dos protestos anti-muçulmanos nas praias de Sidney, no ano de 2007, o que levou a organização não-governamental Surf Life Saving Australia a contactar nadadoras-salvadoras muçulmanas para patrulhar as praias, ao mesmo tempo que pediu a Zanetti para desenhar o fato-de-banho.
Não são só as mulheres muçulmanas a utilizar o burkini
O burkini é utilizado por mulheres muçulmanas, judias, cristãs, mórmones e mulheres que têm complexos com o corpo. Zanneti revelou, inclusive, que até “homens já pediram o artigo”. Celebridades como a chef britânica Nigella Lawson já foram fotografadas a utilizar a peça de roupa na praia.
A proibição pode funcionar como arma de recrutamento por parte dos grupos radicais islâmicos
Os grupos extremistas já utilizaram a proibição da burqa como justificação para os seus ataques. David Thompson, autor do livro “The French Jihadist”, revelou que os próprios jihadistas se sentem surpreendidos que a polícia de Nice faça propaganda por eles. Para os jihadistas “é uma dádiva”, afirma Thompson.
Angelino Alfano, ministro do Interior de Itália, garante que não vai impor a proibição no país. Diz ele que fazer tal coisa pode “tornar-se uma provocação que pode atrair ataques”.