Quem nunca se esqueceu de alguma coisa que atire a primeira a pedra. No entanto, será que aquilo de que nos lembramos é assim tão preciso? Com um simples teste, para o qual pedimos a participação do leitor, pode-se concluir que, afinal, as lembranças são mais falíveis do que gostaríamos.
Nestas três listas, leia cada uma das palavras gastando um segundo.
LISTA N.º 1
Monte, vale, escalada, cimeira, topo, montinho, pico, avião, glaciar, bode, bicicleta, alpinista, paisagem, íngreme, esqui
LISTA N.º 2
Mesa, sentar, pernas, assento, sofá, secretária, cadeirão, meiple, madeira, almofada, suporte, banco giratório, sentado, balanço, banco de jardim
LISTA N.º 3
Cama, descansar, acordado, cansado, sonho, acordar, soneca, cobertor, dormitar, sonolência, ronco, sesta, paz, bocejar, sonolento
Num segundo teste de reconhecimento, com outra lista de palavras enumere as que fazem parte das três anteriores. Não vale fazer batota, nem olhar para cima.
Topo – cadeira – dormir – assento – lento – forte – bocejar – montanha – doce
Se respondeu topo, assento e bocejar, acertou. Se disse lento, doce e forte enganou-se. Mas cadeira, montanha e dormir podem soar às palavras que estavam nas listas, mas na realidade nunca apareceram.
Esta experiência deriva de um estudo de 1995 de Henry L. Roediger e Kathleen McDermott da Universidade Rice no Texas, Estados Unidos, baseado num trabalho anterior de James Deese – juntos formam o nome Deese-Roediger-McDermott ou DRM paradigma. Os participantes ouviam uma série de palavras que tinham de decorar. Depois de uma curta conversa com o investigador, era-lhes entregue uma nova lista de palavras que continha termos facilmente associados à lista inicial. Por exemplo, apesar de a palavra dormir não aparecer nas três listas acima mencionadas, está relacionada com a n.º 3. Cada pessoa tinha também de dizer quão confiante estava quanto à presença das palavras da nova lista nas anteriores.
Os resultados do estudo de Roediger e McDermott mostraram que as pessoas afirmaram reconhecer as palavras associadas (sono, por exemplo) como as palavras que foram realmente apresentadas na lista, em cerca de 85 por cento. Por outras palavras, afirmam lembrar-se de coisas, de forma confiante, que nunca aconteceram.
Existem várias razões para que isso aconteça. Uma das causas apontadas pela dupla de investigadores está relacionada com os processos associativos – todas as palavras de uma lista estão relacionadas umas com as outras, logo é mais suscetível de ativar outras palavras relacionadas na nossa memória. Quando se lê uma lista de palavras relacionadas com o sono, por exemplo, poderemos ficar com a sensação de que também lemos essa mesma palavra. Afinal, as nossas memórias não são assim tão fiáveis quanto gostaríamos.