Imaginemos que dois biólogos marinhos – um homem e uma mulher – escrevem, cada um, um artigo científico sobre a importância do ictioplâncton na alimentação do tubarão-frade. Sem mais elementos para avaliar o grau de conhecimento deles, uma coisa podemos adiantar: é bem provável que ele se cite a si próprio. Ou melhor, é muito mais provável que ele se cite a si próprio do que ela. A conclusão é de um grupo de investigadores das universidades de Stanford, Washington e Nova Iorque, que esgaravataram 1,5 milhões de trabalhos académicos, publicados na biblioteca digital JSTOR, referentes a artigos escritos entre 1779 e 2011, para concluir que os homens, efetivamente, gostam de recorrer à sua própria sabedoria para suportar factos e opiniões… deles mesmos. Os números não enganam: em média, nos 232 anos analisados, eles citam 53% mais os seus trabalhos do que elas; nos últimos 20 anos, essa média subiu para 70%.
Para quem não é do meio, a prática de autocitação pode parecer estranha. Mas, na realidade, uma em cada dez citações dos investigadores são deles próprios. É que a importância do número de citações não é de desprezar, no mundo académico – é uma das formas de analisar o nível de influência de um determinado especialista. E pode fazer a diferença nas atribuições de bolsas ou nas contratações. Ou seja, esta não é uma simples questão de egocentrismo. É uma estratégia de projeção profissional, que, por alguma razão, é mais posta em prática pelos homens do que pelas mulheres.
Os autores deste estudo não se debruçaram sobre as razões por trás desta diferença entre sexos, mas arriscam algumas explicações para o fenómeno. E entre elas o facto de os homens avaliarem as suas competências de uma forma mais positiva do que as mulheres e serem menos penalizados se forem apanhados a autopromoverem-se.
Por curiosidade, refira-se que as áreas com mais autocitações, independentemente do género, são a biologia molecular, a matemática e a biologia evolutiva. E o recorde pertence a um estudo de genética (de vários autores), com 220 autocitações. E o investigador que mais se cita a si mesmo é, por acaso ou talvez não, um dos mais citados do mundo, com quase 7000 referências a trabalhos seus – dos quais mais de 1500, ou um em cada cinco, são feitas por ele. Por decoro, não é revelado o seu nome, no estudo. Nem se é homem ou mulher. Mas a estatística aponta para a resposta.