Vincent Van Gogh cortou a orelha toda ou apenas o lóbulo? Como é que se cortou? É verdade que ofereceu a orelha a uma prostituta? As questões acerca de um dos maiores mistérios da arte ocidental já têm resposta.
Até agora todas as pesquisas e discussões académicas sugeriam que o pintor pós-impressionista, na altura com 35 anos, tinha cortado, na noite de 23 de dezembro de 1888, apenas uma parte do lóbulo da orelha, que depois lavou, embrulhou e ofereceu a uma prostituta chamada Rachel. Há também quem diga que Van Gogh não se automutilou e que perdeu a orelha num duelo de espadas contra o amigo e também pintor Paul Gauguin.
Quase 128 anos depois do incidente, Bernardette Murphy, uma historiadora amadora, responde às questões que têm surgido ao longo dos últimos séculos.
Durante a pesquisa para um livro sobre a vida de Van Gogh, Murphy encontrou um desenho do corte da orelha esquerda do pintor. O esboço foi desenhado, em 1930, por Dr. Felix Rey, o médico que tratou Van Gogh, a pedido de Irving Stone, autor de um livro inspirado na vida do pintor holandês. “Estou feliz de lhe poder dar a informação que pediu acerca do meu infeliz amigo Van Gogh. Espero sinceramente que não falhe em glorificar o génio deste pintor notável, como ele merece. Cordialmente, Dr. Rey”, lê-se junto ao desenho encontrado num arquivo californiano.
Além disso, Murphy descobriu que “Rachel” afinal se chamava “Gabrielle” e não era uma prostituta. Gabrielle era uma jovem que tinha sido brutalmente mordida por um cão e trabalhava de dia como empregada de limpeza e de noite como camareira num bordel para conseguir pagar as despesas médicas. Murphy acredita que Van Gogh lhe enviou a orelha como uma tentativa de a tentar ajudar a curar-se. “Van Gogh era alguém que ficava muito tocado pelas pessoas em dificuldade. Sinto que ele queria presenteá-la com este pedaço de carne”, disse ao Daily Telegraph.
Quanto ao objeto utilizado para cortar a orelha, terá sido mesmo uma lâmina e não uma espada.
Contudo, nem todos aprovam estas descobertas. Steven Naifeh, autor do livro Van Gogh: A Vida, disse ao The New York Times: “Estava disposto a dar-lhes o benefício da dúvida de que eles tinham de facto encontrado novas informações de Rey, mas não são novas, e não são credíveis.”
No livro de Naifeh, publicado em 2011, ele assegura que Dr. Rey e outras testemunhas viram a orelha de Van Gogh depois do incidente e disseram que apenas faltava uma pequena parte. De acordo com o seu livro, o ferimento era tão ligeiro que “quando Vincent era visto de frente, o golpe passava despercebido”.
As descobertas de Murphy estarão em exibição no Museu Van Gogh de 15 de julho a 25 de setembro, e o seu livro, ainda não publicado, vai ser adaptado a um documentário da BBC.