É preciso fomentar o interesse pelo espaço. “Lembrem-se de olhar para as estrelas e não para os pés. Perguntem-se o que é que faz com que o universo exista. Sejam curiosos. E por muito difícil que a vida possa parecer, há sempre algo que cada um pode fazer bem. O que importa é nunca desistir”, disse Stephen Hawking, esta quarta-feira, 29, em Tenerife onde foi homenageado no festival Starmus, que visa tornar a ciência mais universal e a arte acessível ao público. Aos 74 anos, o astrofísico e um dos homens mais admirados no mundo falou da infância, da família, dos sentimentos, do trabalho, das deceções e desejos, enfim, fez uma espécie de balanço da sua vida, a mesma que os médicos disseram que pouco iria durar quando lhe diagnosticaram, aos 21 anos, esclerose lateral amiotrófica.
O facto de estar numa cadeira de rodas, sem mobilidade, e de falar através de um sofisticado sistema de comunicação, que controla com a sua bochecha, gerando uma voz eletrónica, não impediu Stephen Hawking de viajar, pela terceira vez, em dois anos, a Tenerife, nas ilhas Canárias, para assistir a Starmus. Deslocações que faz sempre na companhia de médicos e enfermeiros. Ovacionado à chegada ao auditório, o astrofísico respondeu aos pedidos de fotografias antes de ter subido ao palco. A primeira preocupação é explicar em como faz para aproveitar cada dia da vida e de como se sente orgulhoso com os progressos que a comunidade científica tem feito para investigar a origem humana. “A nossa imagem do Universo mudou muitíssimo nos últimos 50 anos e alegra-me muito ter tido uma pequena contribuição”. O trabalho que desenvolveu sobre a formação do Universo e os buracos negros foi de grande relevância para a física teórica. “Nós, humanos, não somos mais do que coleções de partículas fundamentais da natureza e o facto de que fomos capazes de entender grande parte das leis do universo é um grande triunfo”.
Ateu assumido, Hawking considera que Deus não é necessário para compreender o Universo e lembra as conversas sobre religião que tinha em criança com os amigos. “Falávamos sobre a origem do Universo e se era preciso um Deus para fazê-lo funcionar”.
As memórias de infância e da sua família continuam. Em 1950, aos oito anos, o seu pai mudou de trabalho e toda a família foi morar para o norte de Londres. Mandaram-no para uma escola de raparigas, mas que admitia rapazes até aos dez anos. “Nunca me destaquei, era uma turma com gente muito inteligente. Os meus deveres e os meus apontamentos eram um caos e a minha caligrafia desesperava os professores. Mas os meus colegas chamavam-me Einstein”. Durante o discurso também houve tempo para confissões do pouco esforço que dedicou aos estudos na Universidade de Oxford. “Calculo que tenha trabalhado umas mil horas em três anos, o que dá uma média de uma hora por dia. Não me orgulho, só partilho como era a minha vida na altura”. Foi em Oxford que percebeu que não se sentia bem, principalmente, quando tentava remar. O seu estado foi piorando gradualmente. “Depois de chegar a Cambridge, durante um Natal em que estava muito frio, a minha mãe convenceu-me a patinar no gelo, mas eu já sabia que não poderia fazê-lo bem. Caí e tive grande dificuldade em pôr-me de pé. A minha mãe deu conta que algo estava errado e levou-me para o hospital. Fizeram-me muitos testes e, mesmo sem me dizerem o que estava mal, adivinhei que se tratava de algo muito grave. Nunca mais vi o médico que me fez o diagnóstico e que pensava que não havia nada a fazer comigo”. Com a depressão inicial, pois parecia que piorava de forma muito rápida, Hawking hesitou em continuar a sua tese de doutoramento, sem saber se a terminaria antes de morrer. Mas, a doença começou a evoluir mais lentamente e avançou com o trabalho. “Cada novo dia era uma recompensa e comecei a apreciar tudo o que tinha. Enquanto há vida há esperança.”