Nos últimos tempos, é raro Adelino da Silva Vieira, dono da embarcação Jesus nas Oliveiras, da Gafanha da Nazaré, não ficar mal-disposto com as notícias. A última que diz diretamente respeito ao presidente da Apara-Associação Pesca Artesanal da Região de Aveiro pôs toda a gente a dizer que as sardinhas nunca estiveram tão caras. E ele não se ensaia nada no comentário: “Isso não é verdade!”
O armador e mestre tem razão em se insurgir porque os dados, do INE, referem-se a 2015. Desde 1 de março desse ano até ao dia 31 Julho deste ano, vigoram limites impostos à captura de sardinha, como medida de preservação (as quotas são de 6 800 toneladas). Em 2015, o preço subiu, naturalmente, para €2,19, em média, o mais elevado em vinte anos.
Mas, em 2016, Adelino Vieira diz que está a assistir a todo um outro filme. “Desde o princípio do ano, em Aveiro, a sardinha mais cara que vendi foi a 40/50 cêntimos o quilo”, diz. “E, agora, ainda está pior. O meu filho levou o barco na terça para Portimão porque, na véspera, pusemos 100 cabazes [duas toneladas] para o lixo. E na sexta foram 80 cabazes, porque não se vendeu e não quero estar a ‘comer’ quota.”
Nesses dois dias, a sardinha chegou aos 5 euros o cabaz de 22,5 quilos – menos de 20 cêntimos o quilo. Tudo porque a sardinha no Norte está magra e curta, não tem tamanho. “No Algarve, a sardinha está boa. Há bocado», conta o armador, «o meu filho ligou-me a dizer que comeu sardinha assada ao almoço e estava uma maravilha: gorda e grande. E que já a vendeu à volta de 2 euros o quilo.”
Nos últimos dias, o preço praticado na lota fez saltar a tampa ao dono da Jesus nas Oliveiras. “Pôr peixe no lixo é um crime nos tempos de hoje, mas teve de ser. Com o barco no Algarve, pelo menos não se destrói o que apanhamos.”
Gordas ou magras, no próximo fim de semana, não vão faltar sardinhas assadas no arraial da Associação Desportiva e Cultural da Encarnação, nos Olivais, garante Francisco Teófilo, da organização, que já encomendou 80 quilos no MARL. Este ano, fez questão de comprá-las frescas no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, apesar de ter achado o preço muito elevado para o início de junho: 4,5 euros o quilo.
O aumento reflete-se no preço final das sardinhas, claro. “No ano passado, vendíamos a 1 euro a unidade e a 1,50 com pão. Este ano, vai ter de ser a 1,20 cada uma até porque já sabemos que, quando chegarmos aí ao dia 10, elas sobem aos 9 ou 10 euros.” Pornográfico, se pensarmos no preço praticado nas lotas.