![Derek Forest](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/9065196Derek-Forest.jpeg)
Fundador do Centro de Identificação de Vítimas de Desastre, o especialista forense britânico Derek Forest foi o destacado para vasculhar os escombros do tsunami que assolou a Tailândia, em 2004, de onde seguiu para o Egipto, depois do atentado ao Hotel em Sharm El Sheia em 2005, ao mesmo tempo que aconselhava as autoridades norte-americanas no pós furacão Katrina. Em 2009, os seus préstimos foram novamente requisitados, desta vez para ajudar a dar nome às vítimas da queda do Air France em pleno Oceano Atlântico. Em jeito de balanço, podemos ainda dizer que os seus 30 anos de experiência em busca e identificação de pessoas ao serviço da polícia inglesa valeram-lhe o título de Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico. Esta quarta-feira está em Lisboa para apresentar o kit O Meu ADN, desenvolvido em parceria com a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas. Antes disso, falou com a VISÃO.
O que há primeiro a fazer quando alguém desaparece?
Rapidamente recolher toda a informação sobre essa pessoa e procurar pistas sobre o que lhe poderá ter acontecido. A maioria das pessoas são dadas como desaparecidas a partir de casa. Então, é a casa delas que se deve ir em busca de dados que possa ajudar-nos na investigação e vasculhar detalhadamente todos os equipamentos de comunicação ( telemóveis, computadores, ipads..) para determinar se o desaparecimento foi ou não planeado. A seguir é importante dar conhecimento a todos que aquela pessoa desapareceu: polícia, hospitais, escola, se for menor. Com o passar do tempo, essa busca vai sendo alargada, até tomar um caracter internacional. É preciso ouvir familiares, amigos, todos que possam ter estado com a pessoa antes de desaparecer. Também temos de tomar em atenção que se for um adulto tem o direito de desaparecer, sem dizer nada a ninguém. Mas no caso de menores isso é muito mais preocupante: são sempre mais vulneráveis. Ainda assim qualquer desaparecido é mais vulnerável do que os restantes, porque se vive escondido, dificilmente obtém ajuda em caso de necessidade. O importante é agir rapidamente mal se dá conta de que ninguém encontra essa pessoa. Além disso, é ainda preciso não as oportunidades forenses: ou seja, manter os locais e os bens da pessoa desaparecido intocáveis para que se possa recolher a sua informação genética.
Devemos alertar tudo e todos sempre que não se encontra alguém…imediatamente?
Sem dúvida. Sobretudo se a pessoa em questão é vulnerável. É preciso nunca esquecer que, por exemplo em caso de rapto, o desaparecido pode estar muito longe em apenas duas horas. Sempre que há um aviso de um desaparecimento deve-se sempre tomá-lo a sério. Mesmo quando há pessoas repetidamente dadas como desaparecidas. O mais comum são crianças retiradas aos pais e internadas em centros de acolhimento – repetidamente fogem. Sempre que isso acontece temos sempre de os procurar. Porque nunca sabemos quando pode ser mais do que uma simples fuga.
Diz que é muito importante manter-mos vedados os locais onde as autoridades podem encontrar pistas. É nestas ocasiões que um kit como O Meu ADN pode fazer a diferença?
Sim, se tivermos o ADN da pessoa desaparecida é muito mais fácil saber ao certo se esteve num determinado local. Veja essa sala onde está sentada. Terá as suas impressões digitais mas também de dezenas de outras pessoas. Tal como o seu ADN mas também de dezenas de outras pessoas. Qual é o seu? O melhor desta proposta é que o kit fica na possa de cada um, não passa a fazer parte de nenhuma base de dados. Só será entregue ás autoridades se for preciso ir à sua procura e aí pode ajudar-nos a ultrapassar uma série de obstáculos, tornando a investigação muito mais fácil.
Já é utilizado há quanto tempo?
Há muito que equipamentos deste género são usados para retirar ADN em situações de crime, mas não para este fim. O que agora compreendemos é que pode ser muito útil em diferentes situações. Daí a propor às pessoas se querem isolar o seu ADN, em que lugar o guardam e em que momento ele pode ser fornecido às autoridades, se for caso disso.
Acha que as pessoas pensam assim tanto no seu eventual desaparecimento ou dos seus entes mais queridos?
Em muitas comunidades, sim. Por exemplo, quando há casamentos combinados, aumenta o receio de desaparecimento. Há ainda o caso das crianças em contextos de pobreza e abandono. Ou idosos. E não, isso não acontece só na Ásia ou em África. Pessoas em risco há por todo o lado.
Diz que é para uso particular: é assim tão fácil de usar?
Sim, o equipamento é uma espécie de cassete que é fechada, depois de tirar amostra de saliva de dentro da boca. E é só.
Pode ser guardado durante quanto tempo?
Diria infinitamente. Para já podemos avançar que a tecnologia existe desde 1992 e que as amostras desse ano ainda estão intactas. Não conseguimos dizer se dura mais do que isso. Mas não há qualquer razão para não acreditar na sua manutenção eterna. Não precisa de ser refrigerado nem nada. Um local fresco e seco chega.
Esteve em missão em busca de desaparecidos numa série de situações de catástrofe no mundo: quais as diferenças?
Normalmente, há muito mais pessoas desaparecidas. Além disso, tem-se muito mais corpos recuperados, ou partes dos restos mortais. Num cenário de desastre, procuramos ter o máximo de impressões digitais, ADN e registos dentários que nos permitam identificar o maior número de pessoas. Também procuramos em objetos como escova de dentes, do cabelo, até roupa por lavar. O problema é quando há mais do que uma pessoa a usa-los…Mas há mais problemas com as impressões digitais. Temos sempre de procurar as de todos os dedos. Só que, no caso de catástrofe, podemos não ter um corpo com todos os dedos. Há milhares de mortos, temos de dar um nome a todos para os enviar de volta a casa e dar-lhes um funeral digno. Sabemos que vamos todos morrer. Mas não sabemos onde, quando ou como. Com um Kit destes, esse trabalho estaria sem dúvida muito mais facilitado.
Mas em relação às crianças desaparecidas, pode não haver corpo…
Mas pode haver oportunidade forense. Por exemplo, podemos encontrar o seu ADN na sala em que está agora, e isso dá-nos pistas a quem pode ter estado com ela a seguir ao seu desaparecimento, e em seguida levar-nos ao seu encontro ou a compreender o que pode ter acontecido. É sempre uma pista, mesmo não tendo corpo. Se tivermos o ADN da criança, podemos fazer circular a sua informação, para pesquisarem sempre que se cruzarem com alguém que não esteja identificado. Mesmo que seja anos e anos depois, imagine-se alguém que foi raptado muito novo e já não se lembra da sua vida anterior. Se tivermos a sua informação genética, não haverá dúvidas para o identificar no caso de ser encontrado. E quando um ente querido desaparece, nunca são demais as ferramentas que se podem usar para um final feliz.