Susana, 43 anos, e Marta, 19, são mãe e filha. Mas, por terem o hábito de andarem abraçadas na rua e não se coibírem de atos de carinho lá por os outros estarem a ver, já foram muitas vezes alvo de olhares reprovadores. Tomaram-nas como um casal de lésbicas. Ao contrário do que, conta a mãe, lhes sucedera, por exemplo, numa viagem a Barcelona. Ninguém reparou, ninguém lhes lançou aqueles “olhares matadores”.
Para ajudarem a Amplos (Associação de Entreajuda de Pais de Filhos LGBT), e para normalizarem uma situação diferente mas que é naturalíssima, aceitaram dar a cara por uma campanha em que se abraçam e acarinham, de forma a passar a ideia, a quem vê, de sensualidade de casal, quando na realidade se trata de ternura entre mãe e filha. também os preconceitos do espectadores são aqui colocados em causa.
Estudos comprovam que aceitação das famílias da orientação sexual de um filho, é um momento crucial para o bem-estar emocional e saudável desenvolvimento de uma criança ou adolescente LGBT. Há riscos acrescidos de suicídio, bullying, automutilação, consumo de drogas e sexo desprotegido, entre estes jovens postos de lado pelas família. Mas muitas vezes onde eles mais procuram apoio, recebem rejeição, embaraço, negação e vergonha. E uma palavra errada na hora errada pode ser devastadora. Ficamos sempre muito mais sensíveis e vulneráveis diante dos nossos pais e, explica Margarida Faria, presidente da Amplos: «A discriminação dentro da família é muito mais dramática para eles do que a que vem de fora». E acrescenta que Portugal é uma sociedade ainda muito fechada, muito inclusiva, muito dependente do que «os outros vão pensar», demasiado apegados a uma educação homofóbica e a uma cultura de binarismo homem/mulher que vem desde o berço.