Em 2012, mais de 50% das mães portuguesas estudaram apenas até ao 9º ano ou menos
Em Portugal verificava-se, em 2012, um grande atraso na escolarização das mães dos alunos de 15 anos em relação aos seus pares europeus. Mais de 50% das mães estudaram até ao 9º ano ou menos, ao passo que em Espanha esta percentagem era apenas de cerca de 25%. De notar que a relação entre resultados acima do score de referência (500) e o nível de escolaridade das mães é apenas clara quando quase todas as mães (90%) têm mais que o 9º ano.
Entre 2003 e 2012, os filhos cujas mães têm formação superior melhoraram os resultados no PISA.
Em Portugal, entre 2003 e 2012, registou-se uma evolução relativamente ao nível de escolaridade das mães, especialmente nos primeiros ciclos de ensino. Em 2003, a percentagem de mães que tinham no máximo o 6º ano de escolaridade estava muito próxima dos 50%, ao passo que em 2012 esta percentagem diminuiu para cerca de 30%. Pouco mudou nos níveis mais elevados, sendo que a percentagem de mães com formação superior se manteve constante neste período, cerca de 20%. Porém, e embora a percentagem de mães com formação superior se tenha mantido, observa-se que os seus filhos passaram de uma média de 494 pontos em 2003 para 535 em 2012. Evolução semelhante não se verificou para patamares mais baixos de escolaridade das mães.
Portugal é comparado com dez países europeus que foram selecionados de acordo com semelhanças e diferenças em cinco critérios considerados relevantes para este trabalho.
A idade das mães, nacionalidade e língua foi também analisada. (ver www.aqeduto.pt). Estes resultados são extensíveis quer ao pai, quer à mãe dado que existe uma elevada correlação entre os dois (ver www.aqeduto.pt).
Mães com trabalhos no setor terciário, filhos com resultados melhores
Apesar dos níveis de escolaridade e da tipologia da profissão isoladamente serem relevantes, é a conjugação destes que efetivamente se associa ao nível de desempenho dos alunos. Assim, os filhos de trabalhadoras do setor I e II têm desempenhos similares, independentemente da escolaridade da mãe, sendo que cerca de 60% dos alunos não atingem o nível 3. Por outro lado, no caso de filhos cujas mães estão ligadas ao setor terciário e que têm até ao 9º ano, são cerca de 50% os que não atingem este nível. No caso de as mães terem concluído o 12º ano ou mais, esta percentagem baixa para cerca de 25%.
Setor I (Setor primário): agricultor, agropequário, mineiro, pescador
Setor II (Setor secundário): eletricista, engenheiro civil, operário fabril, pedreiro
Setor III (Setor terciário): bombeiros, empregados de balcão, médicos, professores
O nível socioeconómico e cultural, a tipologia do agregado familiar e diversas variáveis de posses do agregado familiar foram também analisadas (ver www.aqeduto.pt). Os resultados melhores surgem no seio de famílias em que os pais trabalham a tempo inteiro. No caso de Portugal esta diferença é de 43 pontos, a mais acentuada entre os pares europeus.
No que respeita ao equilíbrio família-emprego, o número de horas ocupadas a trabalhar revelou-se uma variável interessante. Temos países onde a maioria dos pais (ambos) trabalha a tempo inteiro, e vários outros onde esta modalidade é menos popular. Em Portugal, cerca de 55% dos pais têm empregos a tempo inteiro, ao passo que na Holanda, 75% dos pais (pelo menos um) têm empregos a tempo parcial. Só no Luxemburgo e na Holanda é que os resultados PISA dos filhos de quem trabalha a tempo parcial são melhores, embora a diferença seja pouco acentuada. Em todos os outros países, os melhores resultados surgem no seio de famílias em que ambos trabalham a tempo inteiro. No caso de Portugal, esta diferença é de 43 pontos, a mais acentuada entre os pares.
COMO LER O GRÁFICO?
Neste gráfico existem dois eixos verticais: no eixo vertical principal, representa-se a % de famílias, logo as barras a azul correspondem à % de famílias em que ambos os pais trabalham a tempo inteiro e as barras a laranja à % de famílias em que pelo menos um dos pais trabalha a tempo parcial. No eixo vertical secundário, representa-se a diferença entre os scores médios obtidos quando ambos os pais trabalham a tempo inteiro e os obtidos quando pelo menos um dos pais trabalha a tempo parcial.
Por exemplo, na Polónia:
– Em cerca de 52% das famílias, os pais trabalham ambos a tempo inteiro e, em cerca de 48% das famílias, pelo menos um dos pais trabalha a tempo parcial.
– Os filhos cujos pais trabalham a tempo inteiro obtêm em média mais 41 pontos no teste PISA Matemática 2012.
Ou seja, na Polónia, no ano 2012, sensivelmente em metade das famílias os pais trabalham ambos a tempo inteiro e, na outra metade, pelo menos um dos pais trabalha a tempo parcial. Os resultados no teste PISA Matemática são melhores para os filhos de famílias cujos pais têm menor disponibilidade.
No geral, todos os pais portugueses consideram que a escola faz o seu trabalho e cumpre a sua missão.
No geral, todos os pais portugueses consideram que a escola faz o seu trabalho e cumpre a sua missão. Quando questionados sobre diversos aspetos desta instituição, quase todos se mostraram satisfeitos ou muito satisfeitos. Apenas 4% dos pais estão insatisfeitos com os professores e os problemas com a disciplina ocupam o segundo lugar na insatisfação (12%). Relativamente ao grau de exigência elevado, 16% dos pais discordam. No entanto, é curioso verificar que há uma associação entre esta opinião e desempenhos fracos dos seus filhos (cerca de 470 pontos).
COMO LER O GRÁFICO?
Neste gráfico temos dois eixos verticais: no eixo vertical principal, representa-se a % de concordância com os vários aspetos sobre a escola. Em cada barra sobre um dos aspetos, o azul corresponde à % de pais que concordam plenamente, o laranja à % de pais que concordam e o cinzento à % de pais que discordam. No eixo vertical secundário, representam-se os scores no teste PISA Matemática 2012, e, em cada barra, a bola azul corresponde ao score médio obtido pelos filhos dos pais que concordam plenamente, a bola laranja o dos filhos dos pais que concordam e a bola cinzenta o dos filhos dos pais que discordam.
Por exemplo, sobre o grau de exigência da escola ser elevado:
– Em Portugal, 16% dos pais concordam plenamente, 68% concordam e 16% discordam.
– O score médio dos filhos, no teste PISA Matemática, é 518 quando os pais concordam plenamente, 496 quando concordam e 469 quando discordam.
Ou seja, em Portugal, 68% dos pais concordam que o grau de exigência da escola é elevado, enquanto 16% concordam plenamente e outros 16% discordam. Curiosamente, os filhos dos pais que acham que o grau de exigência da escola não é elevado, obtêm um score médio de apenas 469 pontos.
A relação dos pais com a escola, as atitudes dos pais em casa face aos filhos e as expetativas para o futuro também foram analisadas (ver www.aqeduto.pt).
Pais e filhos: a história repete-se? A história repete-se, mas só até certo ponto.
A história dos pais está evidentemente ligada à dos filhos, mas não é determinante. A capacidade de esta explicar a variação dos desempenhos é de cerca de 23%. Dessa contribuição, por exemplo, 22% é da responsabilidade do estatuto profissional; 13% da riqueza doméstica; 10% provém da educação dos pais. Outras variáveis têm também um contributo positivo, embora menor, como é o caso dos recursos educativos em casa (7%), dos alunos serem nativos (5%), da perceção da qualidade da escola (3%) e, ainda, das posses de bens culturais (3%). Os resultados PISA tendem a ser mais baixos quando a mãe é muito jovem (-7%) ou quando a habitação é partilhada por um agregado familiar mais alargado (-4%), i.e., não é apenas pai, mãe e filhos.