Luaty Beirão, 33 anos, ativista e músico, conhecido no meio artístico como Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuzx, está em greve da fome, em Angola, há 21 dias. As autoridades angolanas não deixam o rapper receber visitas. Apenas a mãe tem autorização para o visitar.
O site Rede Angola escreve que o Luaty já perdeu mais de 10 kg desde que o início da greve da fome. O irmão do rapper confirma que o músico e ativista está muito debilitado e que chegou a desmaiar. A situação é grave e desde terça-feira que não consegue beber água devido a sentir o estômago a arder.
O caso remonta ao dia 20 de Junho quando um grupo de 14 jovens foi detido numa casa em Vila Alice, um bairro de Luanda, antes de uma reunião para debater a situação política do país e a resistência não violenta à opressão.
Os jovens foram levados sem mandado de captura por alegada “perturbação da ordem pública” e continuam presos em diferentes cadeias. As informações mais recentes dão conta que Luaty foi transferido para um hospital prisão devido ao seu estado debilitado.
Ao longo dos últimos dias realizaram-se em Angola e também em Portugal, vigílias de solidariedade para com Luaty Beirão (ver fotos).
A Amnistia Internacional Portugal tem uma petição online, com o título “Greve de fome em protesto por detenção arbitrária” onde apela que integridade física de todos os activistas seja respeitada e que a perseguição e intimidação de ativistas de direitos humanos no país termine.
Várias figuras públicas portuguesas fizeram questão de mostrar a sua solidariedade nas redes sociais através da hashtag #liberdadejá.
Do grupo de detidos, Luaty Beirão, ou Ikonoklasta, será o mais conhecido fora de Angola. Aquilo que pretende com a greve de fome é que tanto ele como os outros jovens detidos possam aguardar julgamento em liberdade.
O jovem é um dos pioneiros do movimento anti-governamental apartidários angolanos. O rapper mobilizou o país, a partir de um espectáculo música, para a primeira manifestação de 7 de Março de 2011, que exigia a demissão de José Eduardo dos Santos.
Recorde a entrevista feita por António Paulo do Novo Jornal. Neste vídeo Luaty fala das suas motivações para aderir às manifestações populares que têm ocorrido em Luanda.
O Movimento Revolucionário Angolano é composto por jovens, na maioria estudantes, que têm organizado manifestações onde alertam para a violação dos direitos humanos e para a falta de justiça social. São vários os rappers que através das letras das músicas criticam a violência policial. Nas palavras do Ikonoklasta os rappers e o hip hop devem chamar a atenção, através da música, para diferentes problemas do quotidiano: “Tu vens do Hip-Hop, daquilo a que se pode chamar o Hip-Hop verdadeiro, underground por natureza. O Hip-Hop é político, foi assim que surgiu, como uma arma, um meio para expressar a revolta. Desde Dead Prez, passando por Chullage, até ao Mc K, são vários os mc’s e os temas que nos fizeram pensar, que nos despertaram a consciência para problemas urgentes da sociedade. A cena em Angola pareceu-me ser bastante interessante e original. Num concerto em que estive, a sala estava cheia de pessoal atento às letras e havia vários rappers a rimarem sobre o quotidiano e a vida do povo, o que só por si já é uma denúncia da pobreza em que as pessoas vivem. Estarei a romantizar? Ou poderá o movimento de Hip-Hop angolano ser também um movimento de resistência? O movimento Hip Hop angolano é a força motriz por detrás desta juventude que agora começa a rasgar a manta do medo e a gritar a plenos pulmões JOSÉ EDUARDO FORA!” disse em entrevista ao Jornal Mapa.