A faixa colocada nas chegadas do Aeroporto de Lisboa não deixa margem para dúvidas – lê-se a palavra Uber, mas há uma cruz vermelha por cima – ou seja, os protestos contra esta plataforma tecnológica que põe os passageiros em contacto com motoristas privados estão de regresso, tal como havia prometido a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (Antral).
O aviso do protesto chegou às redações já passava das duas e meia da tarde, menos de meia hora antes de a ação começar. Durante o que resta da campanha eleitoral, deverão acontecer outros protestos “inopinados” do mesmo género. Contudo, a PSP tinha sido avisada ontem à tarde para garantir a segurança da iniciativa, sobretudo depois dos episódios de confrontos que marcaram a manifestação dos taxistas de 8 de setembro, também contra o funcionamento da Uber em Portugal.
“Não vamos parar. Vamos continuar até os nossos problemas serem resolvidos”, afirma Vítor Carvalhal, com 62 anos de vida e 42 de táxi.
Os taxistas exigem a regulamentação da atividade da Uber, alvo de uma providência cautelar interposta pela ANTRAL que levou o Tribunal Cível de Lisboa a proibir a empresa de operar em Portugal, mas a Uber recorreu para a Relação de Lisboa e enquanto aguarda pela decisão tem mantido a rede de transportes a funcionar.
“Se há uma ordem para a Uber não funcionar dada pelo tribunal, ela tem de ser cumprida”, defende Vítor Carvalhal, entre manifestações de apoio dos colegas que se uniram em círculo à sua volta.
Apesar da tensão no ar, não se registaram confrontos durante a paralisação. Foram mobilizados 40 agentes da PSP para o local, pertencentes ao efetivo do aeroporto.
O presidente da ANTRAL, Florêncio Almeida, afirmou que se tratou apenas da primeira de várias ações de protesto. “A Uber é bem-vinda, nós estamos é contra as empresas que trabalham com eles e não são licenciadas”, disse o líder da principal associação dos taxistas.
No início do protesto, um grupo de taxistas deslocou-se para a bomba de gasolina da BP próxima do aeroporto por terem sido aí avistados veículos da Uber, mas a organização do protesto convenceu-os a regressar à zona das chegadas.
Alguns taxistas também se manifestaram contra os taxistas que se aproximaram das chegadas vindos de outras praças, muitos chamados pelos passageiros por telefone. As regras são claras, explica Luís Mendes, 45 anos: “Só os passageiros com crianças, os idosos, deficientes ou pessoas que chamam táxi podem seguir”.
Os indignados acham que ninguém devia passar, mas a organização está decidida a passar uma boa imagem e consegue serenar os ânimos.
Com 18 anos de táxi, Luís Rebelo não têm dúvidas de que “há grandes grupos económicos por trás disto” e acusa os partidos políticos: “O PSD e o PS não vêm aqui porque isto não lhes dá votos!”. Curiosamente, o Partido Popular Monárquico (PPM) aproveitou a ocasião para fazer uma ação de campanha, que contou com a presença do líder do partido, Gonçalo da Câmara Pereira, colocando-se ao lado dos taxistas.
Os turistas são encaminhados para o metro, autocarros ou aconselhados a chamarem táxis para as zonas circundantes. Alguns taxistas e Ubers apanham passageiros junto do terminal 2.
Cari Lopéz, 63 anos, acaba de chegar a Lisboa com o marido, vindos de Roma. Está a pé desde as 6 da manhã e ainda não almoçou. Há duas horas que espera um táxi na praça da zona das chegadas do aeroporto. Diz que em Miami, onde vive, também houve problemas com a Uber, mas nunca tinha visto tantos taxistas parados e afirma que depois desta “surpresa” não tem grande vontade de regressar a Portugal. Já Gayle Woods, 65 anos, vinda do Canadá, está à espera há uma hora mas, apesar do cansaço, diz-se do lado dos taxistas: “Eu sei que o mercado é livre, mas tem de haver regulação, os da Uber não podem chegar e começar a trabalhar sem licenças”, acredita. Quando vê que o protesto vai terminar o alívio é evidente.
Às 16h30 os taxistas do aeroporto voltaram a rolar, mas não sem antes agendarem o próximo protesto. Amanhã, às 10h da manhã, estarão concentrados na sede do IMT, em Lisboa, a instituição que tem a responsabilidade de multar os motoristas da Uber que operem ilegalmente.
“Vamos voltar ao trabalho que amanhã há mais!”, grita-se. E Cari Lopéz é das primeiras a entrar num dos automóveis que arranca com velocidade.