Há uma geração que nunca esquecerá o adolescente rebelde e o cientista maluco que se uniram para transformar um carro Delorean numa máquina do tempo, escapando in extremis a um grupo de terroristas líbios.
A trilogia de O Regresso ao Futuro deixou muitas marcas, independentemente de a resposta politicamente correta ser O Padrinho ou A Guerra das Estrelas, como lembra Nuno Markl, na série radiofónica A Caderneta de Cromos, sobre os anos 80. As referências ao filme, ao longo dos anos, confirmamno.
Seja no episódio de 3 Calhaus a Contar do Sol, em que um dos personagens surge a ler Tales from Space, uma banda desenhada que só existe no filme. Ou quando, em As Novas Aventuras do Super-Homem, Harry está a reparar uma máquina do tempo e menciona, exatamente como em Regresso ao Futuro, um ‘capacitor de fluxos’.
Agora que 2015 está aí, multiplicam-se as listas do que imaginávamos que ia acontecer e do que afinal não se concretizou. Chegou, por exemplo, a videoconferência. Não só está generalizada nas empresas como, mes- mo lá em casa, quem é que ainda não falou por Skype? A televisão que o Marty McFly do futuro tem na sala é também uma versão rudimentar do que são os televisores Led de hoje e a petição em defesa da manutenção da Torre do Relógio é assinada por ele num dispositivo semelhante a um tablet. Além disso, a ideia da transmissão simultânea de vários canais na mesma televisão era muito à frente do seu tempo, e também chegámos lá. E até havia um canal a transmitir apenas paisagens, com músicas relaxantes… ideia que pode ser tão disparatada hoje como era nos anos 80 mas que está disponível nos quase-infinitos pacotes da televisão por cabo. Também no ano de 2015 imaginado há 30 anos, Marty mostra a uma dupla de miúdos como as máquinas de jogos eram fantásticas nos anos 80. “Mas é preciso ligação? Isso é completamente estúpido”, ripostam.
De facto, as consolas já funcionam sem fios e respondem aos movimentos do corpo.
Contudo, também houve previsões completamente ao lado. Assumia-se que a comunicação por fax seria a preferencial em 2015. Nada mais errado. E que dizer dos discos a laser? Na era digital, já ninguém usa CD’s. Os computadores mais recentes já não têm sequer forma de os ler.
Carlos Fiolhais não se deixa desanimar: “Nada mau quanto a concretizações! E sim, faltam os carros voadores, mas em 2015 continuarão os testes do carro da Google [que circula sem condutor]”, lembra. Com todo o buzz em torno de O Regresso ao Futuro, surgem também oportunidades de negócio. Preparam-se reedições para colecionadores e a estreia de um musical inspirado no filme. E dois objetos prometem esgotar assim que forem colocados à venda: o hoverboard, o skate que pairava sobre o chão, já existe, ainda que com limitações (só funciona sobre superfícies de cobre ou alumínio); e os famosos ténis Nike de Michael J. Fox foram fielmente recriados, incluindo os atacadores automáticos, que se apertam sozinhos, como que por magia. “Einstein dizia que o futuro vem sempre mais cedo do que se espera”, lembra Carlos Fiolhais.
“Nos laboratórios de todo o mundo, o que se faz é preparar o futuro, com uma sucessão de pequenos passos. A ficção científica nalguns casos acerta, noutros falha. E, por vezes, a realidade é mais surpreendente do que alguém poderia imaginar…