O satélite foi lançado a bordo do foguetão Soiuz-Fregat, da Agência Espacial europeia às nove horas e doze minutos de Lisboa, desta quinta-feira, a partir da base de Kourou, na Guiana Francesa, e irá permitir estudar a história da Via Láctea, o nascimento das estrelas e a matéria escura. Para isso, o aparelho vai medir a distância das estrelas em relação à Terra, a sua posição no espaço e o seu movimento com uma rigorosa precisão, durante cinco anos.
O Gaia conta com a participação de uma equipa portuguesa, coordenada pelo astrofísico André Moitinho de Almeida, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e inclui investigadores e engenheiros das Universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra e Porto.
Esta é a primeira vez que uma equipa de cientistas portugueses participa na definição e concretização de um programa científico da Agência Espacial Europeia. A equipa integra um consórcio internacional de cerca de 400 elementos.
O aparelho, que é um dos telescópios mais complexos da história da Europa, vai demorar cerca de um mês até atingir a posição pretendida, ficando num ponto fixo em relação à Terra, a 1,5 milhões de quilómetros de distância entre o nosso planeta e a órbita de Marte. A ESA pretende que o telescópio localize mil milhões de estrelas. Cada uma será observada setenta vezes. Em mais de 99% delas, nunca se estabeleceu com exata precisão sua distância em relação à Terra.
“Em menos de dois anos teremos um catálogo de todo o céu”, antecipa François Mignard, encarregado da participação francesa no projeto Gaia. Este trata-se do sexto foguete Soyuz lançado da Guiana Francesa, e o segundo em 2013. Além do mapeamento galáctico, o Gaia irá também fazer um atlas do céu e reconstruir a história da formação e evolução da nossa galáxia. O que, segundo Mignard, irá possibilitar aos astrofísicos fazer “arqueologia galáctica”.
Esta missão vai, também, ter impacto direto na vida quotidiana dos cidadãos. A exatidão que o satélite Gaia vai fornecer, permitirá que venha a servir de referência para o GPS. Catherine Turon, membro do Observatório de Paris, refere que o Gaia irá permitir “compreender melhor qual é o nosso lugar no universo”.
O telescópio-satélite Gaia foi construído em Toulouse, no sul da França, pela empresa Astrium, encomendado pela Agência Espacial Europeia (ESA), e separou-se do estágio superior do foguete após 41 minutos e 59 segundos de voo. Prevê-se para 2021 a publicação do catálogo completo das estrelas, que será de acesso livre e terá um sistema de pesquisa e visualização que está a ser desenvolvido pela equipa portuguesa.
Os dois telescópios que integram o Gaia são feitos de carbeto de silício (composto químico de silício e carbono), cada um com três lentes retangulares curvas, cem vezes mais precisas do que as do satélite Hiparco (1989). O dispositivo será capaz de distinguir estrelas com brilho 400 mil vezes mais fraco do que o olho humano pode perceber.
O Gaia dará, assim, continuidade à tradição europeia do mapeamento estelar, uma herança do astrónomo grego Hiparco – o primeiro que, a olho nu, mediu a posição de mil estrelas.