Um problema de gravidade
Um dos maiores elogios que tem sido feito à película de Alfonso Cuarón, com Sandra Bullock e George Clooney, é precisamente a fidelidade na reprodução de um ambiente de gravidade zero. Mas o astrofísico Neil de Grasse Tyson, diretor do Hayden Planetarium do American Museum of Natural History, em Nova York, considera o filme tem várias falhas científicas. A começar pelo cabelo de Sandra Bullock, que interpreta uma cientista que fica “presa” no espaço. Em gravidade zero, o cabelo da atriz flutuaria livremente, o que não acontece no filme.
No Twitter, Tyson, que diz ter gostado muito do filme, identifica também falhas ao nível da representação do espaço: Por exemplo, o telescópio Hubble (que orbita 560 km acima do nível do mar), a Estação Espacial Internacional (400 km acima do nível do mar) e a estação espacial chinesa jamais poderiam ser vistas juntas.
Um “Armageddon” científico
Já outro clássico da ficção espacial, Armageddon, de Michael Bay, é conhecido pelas suas várias impossibilidades científicas – 168, na verdade, segundo a NASA que terá chegado a usar o filme como parte do seu programa de treino. Entre as falhas, conta-se a cena em que vários objetos caem sobre um asteroide, como se estivessem a ser atraídos por uma força gravitacional aparentemente tão forte como a da Terra.
No ano passado, um estudo público no Journal of Special Physics Topics, concluia ainda que, na realidade, Bruce Willis não teria conseguido salvar a Terra do impacto do asteroide gigante, como acontece no fime. A bomba que no grande ecrã despedaçou a perigosa rocha, na vida real teria, segundo o estudo, o mesmo impacto de uma “bombinha de carnaval”, além de que seria tarde demais.
No artigo intitulado “Bruce Willis poderia salvar o mundo?”, os investigadores explicam que para fazer explodir um asteroide com aquelas dimensões, cerca de mil quilómetros de diâmetro, teria de ser usada uma bomba mil milhões de vezes mais forte do que a mais potente alguma vez usada na Terra. E o esteroide teria de ter sido detetado muito mais cedo, uma vez que 18 dias de prazo do filme “não dariam tempo para Bruce Willis viajar até ao asteroide e perfurá-lo até o núcleo”.
Liberdade criativa
Apesar dos cuidados do realizador britânico Danny Boyle, que contratou os serviços de consultadoria do físico britânico Brian Cox, o filme Missão Solar também tem a sua dose de incorreções científicas, como a existência de uma “zona morta” de comunicações em torno do sol, algo que não encontra explicação nas leis da física.
Ed Trollope, engenheiro aereoespacial da empresa Telespazio VEGA na Alemanha, destaca que um dos principais problemas nos filmes passados no espaço é o som. “Por causa do vácuo, não há som no espaço. Ou seja, todas aquelas explosões e barulhos de motores não deveriam estar lá”.
Mas há mais: “Há muitas boas razões para manter os motores ligados no espaço, mas manter a velocidade não é uma delas. Se desligarmos o motor, [a nave] não pára”, garante Trollope.