O documento Saúde Mental em Números, que reúne, pela primeira vez, dados sobre a realidade nacional em matéria de saúde mental até agora dispersos, e que será divulgado no dia 10, no Museu Soares dos Reis, no Porto, apresenta um cenário sombrio: quase um em cada quatro portugueses (22,9%) já teve um ou mais transtornos psiquiátricos, o que nos coloca em segundo lugar na Europa, apenas atrás da Irlanda do Norte (23,1 por cento). Como um mal nunca vem só, o nosso País é líder no consumo de tranquilizantes (benzodiazepinas) um em cada quatro cidadãos mostra sinais de dependência física ou psicológica desses medicamentos a que se soma um consumo excessivo de antidepressivos e álcool. As perturbações de ansiedade (16,5%) e as depressivas (7,9%) surgem no topo da lista e as mulheres correm o dobro do risco de as desenvolver, contrastando com os homens, mais propensos ao abuso de álcool e substâncias ilícitas e a dificuldades no controlo dos impulsos.
Será da crise? Álvaro de Carvalho, psiquiatra e diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental (PNPSM), diz não ter dados que confirmem esta ideia. Porém, os resultados de uma pesquisa internacional realizada antes levam-no a admitir que a “culpa” não assenta só nas circunstâncias socioeconómicas: “A doença mental está diretamente relacionada com as desigualdades sociais e de saúde, mas interrogome sobre se não terá também a ver com a cultura do nosso povo, a tendência para a autodesvalorização sistemática.” Entre janeiro e agosto venderam-se 18 milhões de embalagens de psicotrópicos, mais 1,9% do que em idêntico período do ano anterior. Os números não permitem análises fiáveis (era preciso estarem agregados por dose diária definida, como recomendado pela OMS) mas. são muitos comprimidos. Talvez haja uma má regulação ou uma grande sensibilidade dos clínicos à indústria farmacêutica, comenta o diretor do PNPSM.