As conclusões dos investigadores britânicos vão ao encontro de outras investigações realizadas na Finlândia e na Suécia, indicando também que a associação entre a vacina da gripe A – designada Pandemrix – e distúrbios do sono não é limitada às populações escandinavas.
No entanto, os peritos salientam que o risco ainda pode estar a ser avaliado de forma excessiva e admitem ser necessário monitorizar a longo prazo o grupo de crianças e adolescentes expostos à vacina para avaliar o nível exato de risco.
Em 2009, a gripe A (H1N1), provocada pelo vírus influenza A, espalhou-se rapidamente a nível internacional, tendo sido identificados milhões de casos e registadas mais de 18 mil mortes em mais de 200 países.
Na Inglaterra, a vacina Pandemrix foi introduzida em outubro de 2009. Em março de 2010, cerca de uma em cada quatro (24%) crianças saudáveis com idades inferiores a cinco anos foram vacinadas. Também foram vacinadas pouco mais de um terço (37%) das crianças com idades compreendidas entre os dois e os 15 anos, consideradas parte de um grupo de risco.
Poucos meses depois, em agosto de 2010, surgiram notícias na Finlândia e na Suécia sobre uma possível associação entre a narcolepsia e a vacina Pandemrix (também utilizada em Portugal e que contém o medicamento codjuvante ASO3).
Já em 2012, um estudo finlandês indicou que o risco de desenvolver um distúrbio do sono era 13 vezes maior em crianças e jovens com idades entre os quatro e os 19 anos.
A narcolepsia é uma doença crónica caracterizada por ataques súbitos de sono, muitas vezes acompanhada por uma incapacidade temporária de movimento como reação a uma emoção forte (conhecida como cataplexia).
Para avaliar o risco da vacinação em Inglaterra, uma equipa de investigadores analisou os casos de 245 crianças e jovens com idades compreendidas entre os quatro e os 18 anos que tinham passado por centros de sono e serviços de neurologia infantil do território inglês.
Deste total, 75 sofriam de narcolepsia (56 também tinha cataplexia). Os primeiros sintomas foram registados após 01 de janeiro de 2008. Onze das crianças tinham sido vacinadas antes do início dos primeiros sintomas, sete foram vacinadas seis meses antes dos primeiros sintomas.
Após a avaliação das condições clínicas, o estudo concluiu que as crianças vacinadas antes do surgimento dos primeiros sintomas de narcolepsia correm um risco de contrair a doença 14 vezes superior. Se a vacinação ocorrer seis meses antes do início dos sintomas, o risco de contrair a doença é 16 vezes superior.
Embora o uso desta vacina de prevenção da gripe sazonal seja agora pouco provável, os peritos indicaram que a sua investigação “terá implicações nos futuros licenciamentos e no uso do medicamento codjuvante ASO3 para vacinas contra gripes provocadas por outros subtipos de vírus que provocam infeção como H5 ou H9”.
“Outros estudos para estabelecer os riscos, se existirem, associados a outras vacinas usadas na pandemia de 2009, incluindo aquelas com ou sem codjuvantes, são também necessários para informar sobre o uso deste tipo de vacinas em caso de uma futura pandemia”, concluíram os investigadores.
Em fevereiro de 2011, em Portugal, foi registado um caso de narcolepsia em crianças e adolescentes que foram vacinados contra a gripe A (H1N1), mas não foi determinada a casualidade.