Perfumista da Dior desde 2006, François Demachy, 63 anos, considera-se um compositor e intérprete. Costuma mesmo dizer que se expressa numa língua que muitos entendem, mas poucos conseguem falar. “Sinto-me uma partitura de notas aromáticas”, ilustra o autor do novo Miss Dior, a fragrância fundadora da Casa Dior. A história remonta a 1947, quando foi criada essa maison de alta costura e a coleção revolucionária chamada New Look. Eram os tempos em que Christian Dior procurava uma designação e um rosto para a sua fragrância. Até que aconteceu um episódio simples e delicioso: Mitzah Bricard, então a sua musa, ao ver chegar a irmã do costureiro, proferiu uma célebre frase: “Voilà Miss Dior.” De imediato, o estilista exclamou: “Aí está; será esse o nome do meu perfume.” A palavra ao continuador Demachy.
Os perfumes também são de modas?
Sim, embora tenham ciclos mais longos do que os das coleções de roupa. Hoje, a tendência são os mais ilustrativos, aqueles que revelam logo o seu tema: mais doce, mais floral… De resto, passa-se de um perfume para outro muito facilmente. Não se usa o mesmo, de dia e de noite.
Como é que se inspira?
Não preciso de ir a lado nenhum específico para me sentir inspirado. O trabalho de perfumista é, justamente, traduzir em odores todos os estímulos da vida diária. Mas é claro que, se estiver em algum sítio diferente, ou em viagem, vou sentir-me desafiado.
Quanto tempo demora esse processo?
É longo. Um ano e meio, em média. As essências são escolhidas, pouco a pouco, e só o tempo nos ajuda a concluir se foi a decisão correta. O momento mais forte, o de sabermos que o perfume está criado, é quando provoca inveja e… desejo.
Como soube que queria ser perfumista?
Passei toda a infância e adolescência em Grasse região francesa onde abundam oliveiras e flores e que se tornou conhecida como a capital do mundo da perfumaria. É um ambiente que, por certo, influenciou a minha vida. O cheiro do jasmim em flor está na minha memória desde pequeno. Ali nasceu a perfumaria moderna. Aliás, o meu pai, formado em Farmácia, criou uma água de colónia, a Eau de Grasse Impériale. À época, os perfumes só eram vendidos em farmácias. Entrei nesse mundo, pois, pela mão do meu pai. Nas férias, ia trabalhar nas fábricas de perfumes. Foi assim que descobri como se produziam, e não me imaginei, nunca, a fazer outra coisa.
Tem essências preferidas?
Há aromas que nunca largo: rosa, jasmim, âmbar…
E usa perfume?
Utilizo uma colónia muito ligeira para que o meu cheiro não me atrapalhe a trabalhar parecida com a Royale, da coleção privada Christian Dior, mas sem almíscar.
Como define a sua mais recente criação, o Miss Dior?
Quis desenvolver a faceta sedutora do Miss Dior, sublinhando as caraterísticas da sua personalidade. Pretendi acentuar a sua feminilidade e espontaneidade, apresentá-lo como se fosse um magnífico vestido preto para a noite, embora, ao mesmo tempo, pareça rir descontraidamente. Ganha em maturidade, mas mantém-se livre.
Enquanto perfumista, não pode viver sem…
… mulheres. São a minha grande inspiração, confesso.