Um curso superior é uma enorme festa onde se conhecem pessoas e se fazem amigos. O estudo, as aulas e os professores são apenas um acessório, um pretexto para lá estarmos.” As frases pertencem a Nuno Ferreira, de 32 anos, professor universitário de Economia e Finanças e autor de Faz o Curso na Maior, um livro que promete causar controvérsia sobre o nosso ensino superior. Ao longo de 183 páginas, o agora docente e um ex-universitário que acabou num bom emprego e o coadjuvou naquela obra, assumem que, na faculdade, sempre foram mais assíduos em festas do que nas aulas. Apesar disso, garantem, concluíram as suas licenciaturas com boas notas e ingressaram rapidamente no mercado de trabalho. Hoje, Nuno Ferreira dá aulas na Universidade Lusófona, em Lisboa, e é também economista numa consultora internacional, enquanto Bruno Caldeira, de 33 anos, prospera como engenheiro florestal.
“No 2.° ano da licenciatura percebi que o curso é uma espécie de jogo, e que preferia jogar de acordo com as minhas regras”, diz Nuno Ferreira, que foi considerado o melhor aluno do mestrado em Economia Monetária e Financeira, tirado no ISEG. “Os meus colegas perguntavam-me como conseguia ter boas notas se raramente ia às aulas.” A fórmula mágica traduz-se numa frase que constitui uma espécie de máxima sagrada para os autores: “Com 20% do teu tempo, consegues atingir 80% dos teus objetivos.” O princípio, tornado célebre pelo economista italiano Vilfredo Pareto, surge destacado no livro. “Mas a maioria dos estudantes só se apercebe disso no final do curso”, observa Bruno Caldeira, que trabalhou em grandes superfícies comerciais para pagar os estudos universitários. No entanto, a estratégia do estudo mínimo e do gozo máximo, na faculdade, também “envolve disciplina e, sobretudo, muita inteligência na forma de gerir o tempo”, alerta Bruno Caldeira.
Aproveitar a vida
Em Faz o Curso na Maior (Lua de Papel, €9,90), a realidade é abordada sem meiguices. Nuno Ferreira vale-se da sua experiência para revelar segredos habitualmente só partilhados entre docentes. Descreve, ali, a melhor altura para sacar a cábula, durante um exame. Ou a importância dos enunciados de testes dos anos anteriores – os professores gostam de repetir perguntas. Os exemplos sucedem-se, relatados ao pormenor. Excerto: “Quando os professores não deixam levar o teste para fora da sala, podes sempre tirar uma fotografia discretamente. Se chumbares, vais ter o enunciado para estudar. Aproveita e partilha a foto com os teus amigos (não te esqueças de tirar o som, para que o teu professor não oiça a máquina a disparar…).” Quanto ao uso de cábulas: “É tão fácil ser mais esperto do que o professor (…). Se os professores não gostam de fazer e corrigir exames, ainda odeiam mais a vigilância do mesmo. E fazem tudo para que aquelas duas horas passem depressa: leem o jornal, trabalham nos seus artigos científicos, preparam aulas, jogam no telemóvel, alguns até vão fumar um cigarro!”
Nuno Ferreira e Bruno Caldeira dizem ter escrito o livro por considerarem um desperdício de tempo a forma como alguns alunos se dedicam aos livros. “Muitos deles não estudam nem se divertem”, argumentam. “Cheguei a ir a duas festas universitárias na mesma noite e fazia quase sempre questão de fechar a pista”, recorda Nuno Ferreira, que deu a sua primeira aula aos 23 anos. “Este país está cheio de tecnocratas que nunca experimentaram a vida – e o tempo de universidade é a altura ideal para isso!”
Pobres “marrões”
Ir a festas e fazer muitos amigos, pois, no futuro, essas pessoas podem ser determinantes – eis uma das ideias-chave do livro. “Há uns anos, fui convidado para fundar uma revista de economia, por um colega de turma; é assim que as coisas acontecem”, exemplifica Nuno Ferreira. Nenhum dos autores defende ser possível tirar o canudo sem estudar, longe disso. “Ninguém é licenciado sem trabalho (a menos que sejas um ministro com grande experiência profissional e capacidade de influência para conseguir equivalências a umas quantas cadeiras)”, lê-se a páginas tantas. Sustentam, sim, que não é preciso “marrar” ao nível que se apregoa. “Os alunos devem estudar na altura certa”, diz Bruno Caldeira. “Na época de exames, íamos para a biblioteca de madrugada, estudávamos a sério e com método.” Para isso, avisam, é fundamental obter bons cadernos de apontamentos e resumos da matéria.
Ainda no capítulo do “estudo”, os autores reforçam a importância dos exercícios. “Estudar sem praticar é dos erros mais comuns. Como aluno, via colegas meus passarem demasiado tempo em frente dos livros, a sublinhar coisas”, conta Nuno Ferreira.
Faz o Curso na Maior pretende demonstrar que é possível conciliar farra com bom aproveitamento académico. Os autores sugerem, mesmo, que os alunos devem resolver o maior número de cadeiras durante a época de exames, ficando com o resto do tempo livre para o que realmente interessa. “Este livro”, publicita-se na obra, “é para quem quer, no final do curso, olhar para trás e pensar: valeu mesmo a pena, porque curti à grande e ainda assim consegui terminar a licenciatura (ou mestrado) com uma boa nota!” Será?