E se repente, a conta bancária começou a engordar. Mais de 25 mil visualizações diárias são aliciantes para quem pretende promover uma marca. Consegue-o a jornalista Ana Garcia Martins, 31 anos, com o seu blogue A Pipoca Mais Doce (apipocamaisdoce.clix.pt), que é, hoje, dos mais visitados a nível nacional. Esta espécie de diário dos tempos modernos tem vindo a dar-lhe lucros crescentes desde que começou a alojar publicidade.O êxito do seu blogue levou-a a aconselhar a amiga e também jornalista Sónia Morais Santos, 38 anos, a seguir-lhe as pisadas. O Cocó na Fralda (coconafralda.clix.pt) nasceu há quatro anos e é lá retratado o outro lado de Sónia, a mãe de três filhos que partilha com os visitantes as aventuras e peripécias caseiras. A autora mostra-se surpreendida com a afluência de leitores. “Se alguém me dissesse que um dia iria ganhar dinheiro com isto, tinha-me rido muito.”Ana Garcia Martins já viu textos do seu diário serem transformados num livro, em 2008, o que lhe deu maior visibilidade. A partir daí, foi sempre a subir.
O nome “pipoca” saltou para fora da blogosfera e a agência Zero a Oito viu nele potencial para a criação de uma marca. A jornalista acedeu e, com o licenciamento da marca, a Pipoca Mais Doce transformou-se num CD, numa agenda, numa linha de roupa, numa oferta de vernizes – e a ideia é continuar. Paralelamente, abriu a Bazaar Chiado, em Lisboa, uma loja de moda que o blogue ajuda a difundir.O fenómeno não passou indiferente aos olhos dos anunciantes que viram neste tipo de plataformas um meio mediato de se promoverem. No final, o saldo é bastante positivo. Embora não adiante valores, Ana diz não se poder queixar do volume das receitas. Sónia vai mais longe e assegura que, “se não tivesse três filhos, podia viver muito bem só do blogue”.
PROFISSÃO: BLOGUER
Mónica Lice teve um percurso diferente. Licenciada em Direito e a viver, então, na Guiné-Bissau, a açoriana sentia falta das lojas, das revistas, de um hóbi. Três anos depois de estar em África, quando, por fim, conseguiu ter o privilégio de aceder à net, em casa, decidiu criar um blogue. A Mini-Saia (mini-saia.blogs.sapo.pt) foi o nome que escolheu para o que seria o seu refúgio do mundo muito pouco glamoroso em que vivia. Quando regressou a Portugal, pôs o Direito nas prateleiras, tirou um curso de styling e de consultoria de imagem, e passou a viver exclusivamente do blogue. De início, ainda arranjou outras fontes de subsistência. Mas, hoje, diz, encontra-se numa “situação confortável” com a opção que tomou.
Euros Fáceis?
Já é possível, pois, viver-se das receitas de um blogue em Portugal, embora não tão bem como, por exemplo, nos EUA ou o Brasil. Luciano Larrossa, autor exclusivo da Escola Freelancer (www.escolafreelancer.com), um blogue que ensina a começar um negócio próprio, alerta para o facto de a aventura implicar muito mais do que escrever. Larrossa diz que o dinheiro gerado pelos blogues não provém, em exclusivo, da publicidade. Há outras formas de, através dessa plataforma, arrecadar receitas.
O exemplo de Mónica Lice ilustra-o. Tem uma rubrica no programa Mais Mulher, da SIC Mulher, onde dá conselhos de moda e beleza. No seu blogue, encontram-se fotos dos eventos em que participa e das viagens que faz, como a que recentemente a levou a Copenhaga, a convite de uma marca de maquilhagem, e na qual participaram, também, Ana Garcia Martins e outras blogueres. O negócio parece ter vindo mesmo para ficar – os blogues criados com a intenção de ganhar dinheiro nascem como cogumelos. E os anunciantes interessados em neles apostar pagam bem menos do que a outros meios de comunicação. Pormenor que faz toda a diferença..