Foi numa sala com cerca de 40 metros quadrados, com uma estátua da virgem, um crucifixo, um friso de flores amarelas e brancas e um Papa mais descontraído, que os bispos portugueses ouviram a mensagem que Bento XVI lhes preparou. Para lá chegar, os cerca de 30 jornalistas que foram “privilegiados” com um passe para este encontro na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em Fátima, tiveram de esperar 10 minutos, em fila indiana, no exterior. Depois, ainda em fila indiana, subiram ao primeiro andar e foram conduzidos até ao salão do encontro. Aí, tiveram de esperar enquanto a sala era preparada e uma falsa parede de fole era aberta para acomodar cameramen e fotógrafos, além da imprensa e da rádio. Quando a produção do salão terminou, ficaram “cativos” – Bento XVI podia estar a circular por um dos corredores, já que ele e o seu séquito ficaram aqui hospedados na noite de 12 de Maio e aqui dormirão, hoje, antes da partida para o Porto, a derradeira etapa da visita a Portugal.
Em nome da trintena de bispos (dois de cadeiras de rodas) e do Cardeal Patriarca de Lisboa, presentes, D. Jorge Ortiga, presidente da conferência episcopal portuguesa, leu uma mensagem de boas vindas. Disse que na sociedade portuguesa, “a par do progresso e modernidade”, existem “factores de perturbação”: o “ateísmo”, “racionalismo” e os “atropelos à vida e à instituição familiar”. Os bispos – que não se podem casar e fazem voto de castidade e, portanto – definiram a “dignidade familiar como expressão do amor de um homem e de uma mulher” e sublinharam o seu carácter procriador. No final do discurso, o Bento XVI recebeu das mão de D. Jorge Ortiga um conjunto de 20 aguarelas do pintor Avelino Leite, representando os mistérios do Rosário.
Sentado numa cadeira de estofo vermelho, o Papa leu então a sua mensagem. “Há a necessidade de verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais da comunicação que professam e promovem uma proposta mono-cultural com menosprezo pela dimensão religiosa e contemplativa da vida”, disse Bento XVI. Além destas críticas pediu aos bispos para reencontrar “a paternidade episcopal sobretudo para com o clero”. O Sumo Pontífice sublinhou ainda que “os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo, mas eles próprios são carismáticos, são responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito Santo”.
No final os bispos cumprimentaram o Papa e este retribuiu, trocando breves palavras com cada um dos prelados, enquanto os membros da segurança se reposicionaram na sala. O Papa saiu ainda do seu local para cumprimentar os que estavam de cadeira de rodas. Alguns dos leigos que participaram na organização da visita foram então cumprimentá-lo, com o tradicional beijo no anel.
Depois de Bento XVI sair da sala, sorridente e descontraído, os jornalistas aguardaram de novo no salão. Foram então conduzidos pelos corredores, até ao exterior, onde, no jardim, uma trintena de berlinas e SUVs luxuosos acoitam os agentes de segurança, de óculos escuros e auricular – como nos filmes do OO7.