Porque legitima a infidelidade masculina no seu novo livro?
Levei dez anos a estudar o assunto e concluí que os homens o fazem por uma questão de identidade – precisam dessa liberdade para não sufocarem. As mulheres não deveriam sofrer tanto por os parceiros as “enganarem”. Pode ser também libertador para elas saber que o amor que eles lhes devotam não está aqui em causa.
Como chegou a essa conclusão?
Fui fazendo o registo dos comportamentos dos dois sexos. Recolhi vinte testemunhos masculinos e dez femininos, sobre o tema. Além destas confidências, tive também em conta memórias de experiências com homens que conheci.
A infidelidade esteve na base do seu divórcio?
Não. Porém, fui eu a infiel.
Reabilita a infidelidade deles. E no caso delas?
Conforme expliquei no meu livro anterior [Como as Mulheres Amam], elas concentram-se, sobretudo, em construir e sustentar o crescimento dos seus homens. Isto não quer dizer que não sejam capazes de trair o homem que amam, para se sentirem desejadas, vivas.
Como feminista, é-lhe fácil assumir esse pressuposto?
Enquanto jovem, era uma feminista agressiva. Hoje quero compreender os homens, sem os condenar. Não é fácil ser homem: a sociedade e a família ainda lhes pede que sejam viris, conquistadores, orientados para o poder. A guerra dos sexos já acabou, perdeu sentido.
Chega a falar de monogâmicos patológicos…
Há homens que são fiéis por escolha. São os “verdadeiros”. Os outros são-no por dependência, interditos morais ou incapacidade de se tornarem autónomos. Chamo-lhes “fiéis mafiosos”.
Mas admite que haja infiéis patológicos? Casanovas Crónicos?
O que é excessivo não é normal. Mas o que é feito por obrigação, que limita e aprisiona, não é natural.
Mas as mulheres continuam a sofrer com isso.
Somos mais fortes e maduras, comparativamente aos homens, que são mais frágeis. O sofrimento é opcional, se encararmos e compreendermos os pactos de fidelidade como culturais.
O que recomendaria a uma jovem adulta solteira que está a iniciar uma relação amorosa?
Que abandone o sonho de ter um príncipe encantado. Que tire partido da vida, sem correr para um envolvimento precoce e dependente. Que saiba conhecer-se e aprenda a fazer pactos inteligentes.
O que são pactos inteligentes?
Aqueles que partem da ideia de que o amor envolve encantamento e sofrimento, e que é algo que se constrói. Há quem opte pelo adultério consentido. Houve mulheres que me disseram preferir fechar os olhos aos deslizes do companheiro, alegando que por o conhecerem bem e lhe darem essa liberdade, o tinham sempre de volta.
B.I.
Maryse Vaillant é formada em Psicanálise. Exerceu funções directivas e consultivas em Educação. É divorciada, tem uma filha e quatro netos. Afirma-se feminista e é escritora desde 2001. Temas de eleição: violência, perdão, família, casal. O seu último livro tem gerado muita polémica em todo o mundo.