A dicotomia entre o público e o privado dominou o debate deste domingo à noite, na SIC, entre António Costa e Francisco Rodrigues dos Santos. Da saúde, à educação até aos impostos, os dois líderes não surpreenderam, discordando de tudo o que o outro dizia. No entanto, como estavam a falar para eleitorados diferentes, foram capazes de se ouvir.
Saúde
Ditou o sorteio da SIC que António Costa teria a palavra primeiro, mas o principal beneficiado tinha tudo para ser Francisco Rodrigues dos Santos, ou não o tivesse citado a moderadora, a jornalista Clara de Sousa, para pedir explicações ao primeiro-ministro sobre a quantidade de portugueses que ainda não têm médico de família. A promessa eleitoral de António Costa – que ficou por cumprir, como o próprio reconheceu no debate – é transferida para esta campanha. Segundo o secretário-geral do PS um aumento no número de utentes e a dificuldade em atrair profissionais para a especialidade de medicina familiar impediram os socialistas de cumprir este objetivo. Todavia, “nós não desistiremos até que todos os portugueses tenham médico de família”, disse o governante, que não aceitou comprometer-se com uma meta para esta medida: “gato escaldado tem medo… não vou outra vez assumir um calendário”.
Francisco Rodrigues dos Santos escolheu não explorar este tema, apesar da insistência da moderadora, e preferiu acusar o PS de “colocar a ideologia à frente dos doentes”, nomeadamente, quando os tempos de espera máximos de consultas, exames e cirurgias não são respeitados. O CDS propõe, para resolver esta situação, uma via verde da saúde, que pressupõe um maior recurso aos setores privado e social.
Em resposta, o primeiro-ministro optou por dizer que os privados não têm todas as soluções e que também estão abraços com a falta de médicos, dando o exemplo de um dos maiores grupos de saúde privados, que disponibilizou as suas instalações e camas para receber doentes Covid, no pico de uma das vagas da pandemia, mas não tinha recursos humanos suficientes. Teve então de receber o auxilio de médicos alemães. Isto para concluir que “o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é mesmo o garante de todos” e que “não é desnatando o SNS que teremos um SNS mais forte”.
Educação
Não satisfeito com o olhar socialista sobre a saúde, “Chicão” foi buscar o exemplo da educação, área em que acusa o Governo de ter descartado contratos de associação com escolas, mais uma vez “por cegueira ideológica”, e ainda de querer doutrinar os alunos em aulas obrigatórias de educação cívica. “A partir do momento em que se teoriza acerca da sexualidade, as famílias devem poder decidir se querem ou não que os filhos frequentem essa disciplina. É o mesmo que se passa com a educação moral”, criticou o líder centrista. “A escola não é um tubo de ensaio para as doutrinas que o PS entende e não é um acampamento do Bloco de Esquerda”, defendeu.
Por sua vez, António Costa declarou que “ninguém acabou com o ensino privado, nem com os contratos de associação nos sítios onde não há oferta” e, quanto às aulas de cidadania, pediu a Rodrigues dos Santos para não confundir “crenças religiosas com valores que estão plasmados na nossa Constituição, como o da liberdade, do respeito pela vida humana e pelas escolhas de cada um”.
Impostos
O debate terminou com o líder do CDS a acusar o primeiro-ministro de ter reduzido, nos últimos seis anos, o rendimento das famílias, ter aumentado a divida pública e a carga fiscal, sublinhando que “Portugal não pode ser o país das web summits e dos unicórnios e depois deixar as empresas asfixiarem”. Por isso, os centristas incluíram no seu programa eleitoral uma redução do IRC até 15%, para cumprir até ao final da legislatura, e um limite na fatura dos combustíveis e da eletricidade.
Costa rejeitou todas as acusações, garantindo que o peso dos impostos diminuiu, tal como a taxa de desemprego, e que o PS quer continuar esta trajetória nos próximos quatro anos: a conseguir uma maioria absoluta (o que não deverá acontecer, segundo as sondagens) “a primeira coisa que o PS fará é aprovar o Orçamento [do Estado] que foi chumbado”.
As frases do debate
Francisco Rodrigues dos Santos: “O socialismo é um sistema que só funciona no céu, onde não é preciso, e no inferno, onde já existe. E, de fato, António Costa vive no país das maravilhas, mas os portugueses vivem no país de António Costa e sabem que ter um filho é quase hoje uma impossibilidade dada a falta de estímulos”.
António Costa: “A prioridade do Estado tem de ser investir na escola pública e no SNS”.