Tendo em conta o tema com que arrancou o debate – a habitação -, acabou por ser expectável o que veio a acontecer, ao longo de menos de meia hora. Rui Rocha começou por confrontar Mariana Mortágua com o plano do Bloco de Esquerda para resolver o problema da falta de casas a custos acessíveis em Portugal (segundo as contas do liberal, sob a alçada bloquista o Estado só iria dar 60 mil euros para a construção de cada uma das 80 mil planeadas).
Só que não só tal questão ficou por responder, como no embate, entre o líder liberal e a coordenadora do BE, houve tantos números jogados para cima da mesa sobre a habitação, impostos e saúde, que, a certo ponto, só havia uma certeza: estavam a digladiar-se duas visões distintas do papel do Estado, com o Rocha a defender mais alforria para o mercado e com Mortágua a querer pôr um açaime no capital.
Como em causa não estavam questões de costumes – como a eutanásia, as drogas leves e tantas outras que unem os dois partidos na tentativa de conquista do eleitorado urbano (pelo qual se caracterizam as duas forças políticas) -, cedo ficou provado que, apesar de reconhecerem a existência de problemas no setor habitacional e no Serviço Nacional de Saúde, a receita de ambos é muito distinta.
Por Mortágua, não há falta de casas em Portugal, porque estão ora na mão da especulação imobiliária ou a serem usadas para fins incorretos, como o turismo. Por isso defende um travão à aquisição de casas por estrangeiros e que 25% das novas construções sejam para habitações com preços e rendas acessíveis. Já Rocha, sem conseguir explicar sequer o que defende para esse flagelo, apostou em avisar Mortágua para contas mal feitas e de uma eventual violação da legislação europeia (quanto à proibição da aquisição de casas por estrangeiros).
Depois, na Saúde, o líder da IL não esclareceu o formato da resposta do Estado às falhas do SNS. Mas o mesmo aconteceu com a bloquista. O debate aí resvalou para uma troca de palavras sobre as virtudes e defeitos das parcerias público-privadas no setor.
Pelo meio, discutiram-se impostos e o peso do Estado na economia. Aí, pelo menos, Rui Rocha lá conseguiu adiantar que os cortes nos impostos – sobre a área da construção, habitação, rendimentos e empresas – impactaria com as contas públicas na ordem dos 5 mil milhões de euros. Quanto à coordenadora do BE, apostou em desmontar as medidas propostas pela IL, falando em “borlas” ao mercado e a quem mais tem (Mortágua falou que aos quatro gestores de topo portugueses, que auferem oito milhões de euros anuais, o plano da IL – a ser aplicado – permitiria uma poupança de 2,4 milhões).
Frases & Soundbytes
“As medidas e as propostas do BE são inviáveis. Não acredito que o BE queira, em cada habitação, quatro e cinco pessoas em T0 e contentores”, disse Rui Rocha.
“Quanto a cinco pessoas num TO – é o que já acontece neste momento”, retorquiu Mariana Mortágua.
Números
Mariana Mortágua: “Vivem menos pessoas em Portugal, em 2022, do que em 2007 ou 2012 – e não havia um problema de habitação. E há um superávit de casas para número de família. Portugal esteve a perder 1 500 milhões de euros por ano para dar benefícios fiscais para residentes não habituais e fazerem subir o preço da habitação”.
Rui Rocha: “A nacionalização da REN, EDP, GALP, CTT e ANA custaria 30 mil milhões de euros. Eu tenho de perguntar à Mariana Mortágua com o dinheiro de quem? Estamos a falar de, numa família de três pessoas, de 10 mil euros por família para nacionalizar estas empresas. Das duas uma: ou Mariana Mortágua não quer pagar ou vai pagar com o dinheiro dos contribuintes”.
Mariana Mortágua: “Nos CTT, um controlo de posição é 60 milhões de euros; o valor de mercado. A gestão global do sistema REN, 50 milhões, e uma posição de controlo, 450 milhões, valor mercado. estas propostas para ter controlo publico – duas medidas para estes quatro anos, CTT e REN. Estas propostas são menos que os 2,2 mil milhões que a IL quer dar à banca cortando nos impostos”.
Indumentária
Mariana Mortágua apresentou-se de blazer azul escuro e camisa azul clara, enquanto Rui Rocha apostou num fato azul, camisa branca e gravata azul (do mesmo tom do casaco).