Se tivesse sido um jogo de futebol, a crítica diria que teve todos os ingredientes: emoção, golos, casos, cartões amarelos e vermelhos, alternância no marcador, incerteza no resultado e, até, o já habitual prolongamento, para além do tempo regulamentar. E o (metafórico) minuto de silêncio, sugerido, de forma feliz, por Pedro Nuno Santos, nos pêsames dados a Luís Montenegro (por morte do sogro). O debate teve canelada, mas também teve boas jogadas, sumo, discussão de temas e a exposição de propostas e medidas concretas. André Ventura fez um esforço para se apresentar como homem de Estado, procurando explicar e fundamentar algumas ideias.
Pedro Nuno Santos procurou adotar a postura do adulto na sala, apresentando-se como o político responsável contra o demagogo que promete tudo a todos. Justiça (onde Ventura marcou um ponto com o combate à litigância de má-fé e ao interminável recurso aos recursos, por parte de quem tem dinheiro e pode pagar a bons advogados, mas em que PNS, no seu momento demagógico, lhe lembrou que também ele recorreu, num processo…). Saúde, onde PNS se mostrou incomodado com a sua própria medida para reter médicos no SNS mas onde as águas ideológicas se dividiram entre esquerda e direita. Pensões, impostos e Estado Social, em que o líder socialista conseguiu expor as fragilidades do adversário. E este, em termos de conteúdo, foi o momento em que o líder do Chega meteu os pés pelas mãos, procurando explicar o inexplicável – agora já não vai buscar os milhões à corrupção, nem à economia paralela, mas ao desperdício nos ministérios, que não explicou nem fundamentou.
Na fase final, vimos um PNS mais solto, inspirado, ao ataque, e um Ventura mais acossado, defensivo e já a resvalar (“você é um frouxo”, atirou, numa acusação que, podendo ter PNS muitos defeitos, não cola com a imagem que dele se tem). No final, com PNS a procurar desacreditar Ventura e mostrar que o adversário não é credível – mas, cautelosamente, sem nunca lhe chamar racista ou xenófobo… – lembrou-se de fazer a pergunta sem resposta: “O dr. Ventura disse que tem a garantia de que fará parte do próximo governo de direita: quem lha deu? Ou podemos concluir que estava a mentir?”
Indumentária
Ambos se apresentaram de fato escuro e camisa branca. Gravata verde escura para PNS, cor-de-laranja (sintomaticamente?…) a de André Ventura.
As frases
PNS
“O Chega finge que combate a corrupção trazendo medidas que já existem
AV
“O programa do PS é como o melhoral: não faz bem nem mal”
As ideias
PNS
“Ao substituir o Serviço Nacional de Saúde por um ‘sistema’ nacional de saúde sabemos como isso vai acabar: no desvio dos recursos do Estado para os privados”
“Temos de combater a morosidade na Justiça [apresentando várias medidas concretas]
AV
“Temos de diminuir a possibilidade de tantos recursos. José Sócrates já recorreu 30 vezes [num alerta contra a litigância de má-fé]
“Temos de reativar as PPPs da Saúde”
As farpas
PNS
“Ventura é bom na conversa…”
“A gravata cor de laranja não é por acaso…”
“A AR aprovou, em 2021, um pacote anti-corrupção, por unanimidade, com a exceção do sr. deputado André Venhtura, que preferiu estar numa reunião com dirigentes da extrema-direita europeia”
“O dr. André Ventura quer que os recursos da Saúde vão para os privados… ou antes: o dr. André Ventura quer tudo! Aderiu à ideologia da moda para subir no sistema”
AV
“Pedro Nuno Santos é um candidato impreparado para ser primneiro-ministro.”
“O Pedro Nuno Santos é o rosto do falhanço do Governo. É um frouxo!”
“É o ministro-trapalhada”.
Os presentes-ausentes
José Sócrates e Ricardo Salgado
A gaffe
“Temos uma visão diferente da do Partido Socialista” (Pedro Nuno Santos)