Cansado de apagar fogos durante esta campanha para as legislativas – desde as declarações de Eduardo Oliveira e Sousa sobre o ambiente, às de Paulo Núncio sobre o aborto –, Luís Montenegro acusa os restantes partidos de se perderem nas “pequenas polémicas”. “Aqueles que passam a vida a falar de nós ou a falar de coisas que ninguém sabe de onde veem estão a dar um sinal aos eleitores que é ‘não contem connosco para resolver os problemas’”, acusou. Ao contrário das outras campanhas, a da AD “não divide, não há eles e nós, esquerda e direita, há pessoas”.
Nesta terça de manhã, a campanha da AD concentrou-se nas arruadas, pelo centro de Aveiro e de Águeda. E foi na primeira cidade que o líder do PSD afirmou sentir cada vez mais apoio, de “pessoas que até há pouco tempo estavam a pensar votar no Chega ou no Partido Socialista”, mostra de que “esta candidatura não divide”. “Olho para estes factos e notícias e digo a mim próprio: ‘tens de ter ainda mais capacidade e sentido de responsabilidade, porque os agentes políticos não a dão’”.
O cabeça de lista da AD demarcava-se assim de uma possível aliança pós-eleitoral com o Chega, avançada e defendida por André Ventura para governar Portugal. Questionado pelos jornalistas se haverá dirigentes sociais-democratas a defenderem igualmente esse entendimento, respondeu: “Não participo no recreio.”
A comitiva, muito barulhenta, com banda de sopros e bateria a juntar-se aos cânticos das juventudes partidárias, não permitia aos candidatos Luís Montenegro e Nuno Melo – acompanhados pelos presidentes de câmara Ribau Esteves e Jorge Almeida – trocar mais do que meia dúzia de palavras com os passantes e com os comerciantes.

Exceção feita a quem aproveitava a passagem da campanha da AD para fazer o seu protesto e a quem Luís Montenegro dedicava mais alguns minutos. Foi o caso dos oficiais de justiça que envergavam t-shirts pretas com a frase “Justiça para quem nela trabalha” e questionava o líder do PSD sobre quais eram as suas propostas para o setor. “Não fiquei convencido, deu umas respostas muito vagas sobre a valorização da administração pública”, disse André Ferreira, que saiu do Tribunal de Trabalho de Aveiro para ir ao encontro da campanha – “se fosse do PS também vinha”. “A ganhar 850 euros, não se consegue cativar ninguém para a carreira”, apontou o oficial de justiça, de 40 anos, dos mais novos de uma classe que, desde 2023, tem feito sucessivas greves. Mas não tinha esperança de uma mudança protagonizada por um governo AD, porque “antes de 2015, as coisas ainda estavam piores”.

Em Águeda, foi a vez de Manuel Reis, da associação Agir pelo Planeta, interpelar o cabeça de lista da AD, trazendo numa das mãos um vaso com um carvalho para lhe oferecer e, na outra, o programa eleitoral da coligação. “Está aqui ou não no programa o aumento da área do eucalipto?”, questionava o ambientalista. “O que está aí é uma preocupação com a gestão florestal, de ligar a floresta à agricultura e não pôr a floresta debaixo da alçada do ambiente”, respondeu Montenegro. “Vamos aumentar a exploração florestal, as zonas de cultivo, de ordenação e de gestão da floresta… Só tendo uma floresta bem gerida e com rendimento para os seus proprietários é que vamos evitar muitos incêndios”, defendeu. Para Manuel Reis, “é uma asneira de todo o tamanho colocar as florestas sob a alçada do Ministério da Agricultura, está a submetê-las aos interesses rurais e económicos”.
As vozes de protesto não foram suficientes para abalar a onda de positividade da campanha. “A AD não perde tempo com as coisas pequenas, com aquilo que não interessa às pessoas, está focada nos problemas que enfrentam diariamente e em encontrar soluções para eles. Por isso é que somos cada vez mais, por isso é que nos ouvem cada vez mais e por isso confiam em nós cada vez mais. Os últimos dias têm sido a expressão de muita gente que já pensou votar no Chega, no Partido Socialista, mas percebeu que desses dois lados não vêm soluções, só faits divers”, discursou Luís Montenegro, aos apoiantes, numa praça pública de Águeda.
Em frente, no Salão Capri, já tinha ouvido os resultados da sondagem à boca da barbearia feita por Norberto Cardoso, o proprietário, que dava a vitória nas legislativas à AD. “A sua sondagem nunca falha? É a fama que tem? Fico ainda mais confiante”, agradeceu Montenegro. Confiante, mas não descansado. “É preciso não deixar um contacto por fazer, esta é a última oportunidade para convencer as pessoas.”