Um deputado e um candidato do Chega sugeriram, nas últimas horas, nas redes sociais, a possibilidade de estar a ser preparada uma fraude eleitoral nas legislativas de 10 de março para beneficiar o PS e prejudicar o partido de André Ventura. O deputado Pedro Frazão aproveitou a deixa para levantar suspeitas sobre a eleição de Pedro Costa – filho do primeiro-ministro António Costa – como presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, em Lisboa.
O ex-PSD António Pinto Pereira, cabeça de lista pelo círculo de Coimbra, partilhou, na rede social X (antigo Twitter), uma imagem que, segundo o próprio, confirma a preparação de uma suposta fraude eleitoral. António Pinto Pereira escreve “saber” que anda “a circular em grupos socialistas e comunistas” do Whatsapp informação destinada a neutralizar os votos no Chega no próximo dia 10 de março para quem estiver nas mesas de voto”. O objetivo, diz, “é colocar os amigalhaços da esquerda nas mesas de voto para fazerem isto: os boletins em branco levam cruz no PS; os boletins do Chega levam um rabisco e ficam nulos”, desenvolve o advogado e professor do ISCSP.
“Não foi para isto que se fez uma revolução em Portugal. Estamos já ao nível do Brasil ou da Venezuela!”, escreve ainda o candidato, um dos “reforços” que André Ventura foi recrutar a outros partidos – António Pinto Pereira chegou a ser equacionado para candidato do PSD à Câmara Municipal de Sintra, como escolha da concelhia do partido, mas o seu nome seria rejeitado pela direção nacional de Rui Rio.
Deputado aponta à família Costa
O deputado Pedro Frazão também deu seguimento à corrente conspiracionista, partilhando a mesma publicação, desta vez, em resposta a José Maria Matias, filho do assessor do Chega Manuel Matias e irmão da deputada Rita Matias. Utilizando a mesma imagem, Frazão recordou o caso da vitória de Pedro Costa por 25 votos, nas autárquicas de 2021, que valeu ao filho do primeiro-ministro António Costa ser eleito presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique.
O deputado eleito por Santarém – repete a posição de cabeça de lista pelo distrito nestas eleições – destaca que apenas “numa só das mesas [de voto], houve um desvio significativo: [com] 190 votos para o PS e 20 para a coligação de direita”, “Novos Tempos”, que tinha Teresa Morais Leitão como candidata a Campo de Ourique. “Uma diferença de 170 boletins que poderá ter ditado a vitória de Pedro Costa”, conclui o deputado do Chega. A juíza que acompanhou o processo não encontrou justificação para autorizar uma recontagem.
Os internautas ligados ao Chega não dão informações sobre a origem ou a veracidade da imagem que circula – a toda a velocidade – nos canais de apoio ao partido, e outros ligados a influencers associados ao espectro da direita radical populista. Não há, porém, razões que justifiquem qualquer suspeita de fraude nas legislativas de 10 de março. Os membros da mesa são escolhidos pela candidaturas. Delegados de todos os concorrentes, que participam no ato eleitoral nesse dia, vão marcar presença nas mesas de voto, como explica a Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Recorde-se que as teorias da conspiração relacionadas com fraudes eleitorais ganharam lastro nos Estados Unidos da América e no Brasil, depois das derrotas de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Embora sem quaisquer provas, foram várias as figuras de referência da direita radical populista destes países que, após as eleições de 2020 (nos Estados Unidos) e de 2022 (no Brasil), espalharam fake news e desinformação que teria como resultado os trágicos ataques à democracia nestes países.
No dia 6 de janeiro de 2021, movimentos extremista pró-Trump invadiram o Capitólio dos Estados Unidos da América, em Washington, um episódio que provocou a morte de cinco pessoas, incluindo um polícia. A papel químico, no dia 8 de janeiro de 2023, grupos radicais pró-Bolsonaro atacaram o Palácio do Planalto, em Brasília, causando um rasto de destruição que provocou quase uma centena de feridos, entre os quais quase meia centena de polícias militares.