Dando como adquirido que a aprendizagem à distância não é tão sólida como a presencial, o professor catedrático e ex-ministro da Educação, Nuno Crato, diz que não há tempo a perder. “O que precisamos não é de remediar, é de acelerar. Sabemos que estas perdas cognitivas podem significar muito para os nossos jovens, o equivalente a meses letivos”, e terão impacto na vida futura destes alunos, que “com menor formação podem ser menos produtivos e ter salários menores”.
No Reino Unido, por exemplo, o Governo está a elaborar um plano paralelo ao de desconfinamento na educação que incide sobre a recuperação das aprendizagens que ficaram por fazer com a pandemia de Covid-19. Em Portugal, não se houve ideia semelhante, mas Nuno Crato admite que isto poderia ser aplicado, com medidas como encurtar um pouco as férias de verão, ter mais tempo de aulas e concentrar os currículos nas matérias essenciais.
Para além disto, “no pós-pandemia, acho que a avaliação será essencial. Nós precisamos de saber em que ponto estão os alunos. Mesmo os bons professores, que estão constantemente na aula a tentar avaliar o que se passa na cabeça dos alunos, quando fazem um teste são surpreendidos por perceberem que afinal o Joaquim ou Francisco, que eles julgavam estar a acompanhar tudo, não estão a acompanhar”, sugere o diretor da Iniciativa Educação, acrescentando que “a avaliação deve ser feita a todos os níveis: ao nível da turma, da escola e eu diria mesmo a nível nacional para perceber onde é que estão os maiores problemas, onde é preciso atuar com mais energias”. Como funcionaria? Isto já é uma questão que “o Governo tem de ver”.
O regresso à escola
Uma semana e meia desde que as creches, o pré-escolar e o ensino primário reabriram, Nuno Crato fala “num grande alívio” e “numa grande ansiedade”, vê com bons olhos a ideia do rastreio periódico à Covid e sublinha a importância da vacinação rápida da comunidade escolar.
Os primeiro dados, divulgados pelo ministério da Educação, relativos aos testes realizados a professores, alunos e auxiliares revelaram uma taxa de positividade inferior a 0,1%. Foram testadas mais de 82 mil pessoas e encontrados 80 casos de Covid-19 nas escolas. A próxima ronda de testes nas creches, pré-escolar e primária está agendada para 5 a 9 de abril.
Para os mais velhos, o ensino continuará a ser remoto, quase até ao final do ano letivo, e Nuno Crato deixou ainda algumas sugestões para os professores, pais e estudantes se organizarem melhor, como ter períodos mais curtos de exposição à matéria teórica, criar interrupções para trabalho em equipa e a disponibilização de material para estudo.
“Existem algumas ideias românticas de que o ensino presencial já não precisa do professor. Isso não é verdade: nada substitui o ensino presencial. Mas os meios remotos são bons e há potencialidades nestes meios, que vieram para ficar”, defendeu.
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