“O PS tem uma estratégia definida que é apresentar as candidaturas apenas no segundo trimestre e, portanto, também ainda não se sabe mito bem o caminho que vai seguir”, disse o autarca de Gaia, que é também vice-presidente da Federação Distrital do Porto e membro do secretariado nacional do PS.
Confrontado com a ausência de mobilização do seu partido para as próximas autárquicas, por contraponto às apresentações já adiantadas pelo PSD, Eduardo Vítor Rodrigues adiantou que “a estratégia para as autárquicas foi aprovada numa reunião pública” e que daí surgiram duas indicações: “uma lógica de continuidade” dos atuais presidentes de câmara e, nos casos em que isso não acontecia, ter como tempo limite o “final do primeiro semestre para fechar todos esses dossiers”. Certo será também que se o número um da lista for um homem, o número dois terá de ser mulher, ou vice-versa.
“Se o deixarem”, também é certo que Eduardo Vítor Rodrigues correrá para cumprir o terceiro mandato em Gaia, mas lembrou que sempre defendeu que os mandatos deviam ser estendidos para 5 ou 6 anos. Passando em revista as dificuldades que o PS tem tido com os candidatos à camara do Porto, mostrou-se confiante de que será capaz de apresentar, desta vez, “uma candidatura suficientemente forte”. Contudo, disse que “este é o ciclo de Rui Moreira”, que “tem trabalho para mostrar”, o que é uma vantagem. Isto vem no alinhamento de considerar que Rui Rio, caso fosse de novo candidato, “perderia para Rui Moreira”. Explica: “É a análise que faço, porque o nível de credibilidade [de Rui Rio] posta ao serviço da ação política começa a abrir muitas brechas. É evidente que não se podem fazer jantares e a seguir desdizê-los. São momentos muito tristes da nossa vida política”.
Acusou ainda Rui Rio de, “através da lei, prejudicar e vingar-se de Rui Moreira”, resultando na aprovação “por voluntarismo, com alguma facilidade e sem grande discussão” da nova norma que está a dificultar a candidatura de movimentos independentes. Mas tal “será corrigida até ao final do mês”.
“Money for the People“
Um dia depois de ter recebido o Primeiro Ministro António Costa, que fez de Gaia o palco do primeiro anúncio de investimento ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Eduardo Vítor Rodrigues continua bem disposto. Serão 50 milhões de euros para uma nova ponte que ligará uma nova linha de metro entre Porto e Gaia.
Este tipo de investimentos é prioritário? “Os transportes públicos são determinantes para a nossa qualidade de vida, mobilidade, facilidade e tempo que se gasta em filas de trânsito”, considera. Mas defende que se avance com algo mais à americana, um lema “Money for the people”. Na sua opinião, é necessário “criar estratégias de financiamento direto às pessoas, a partir de estratégias concretas do país”. Não para gastar em cerveja no supermercado, mas na eficiência energética, na reabilitação de habitações ou na compra de carros elétricos. “Estou convencido que esta bazuca vai ter mecanismos de money for the people, porque é preciso também injetar dinheiro nas famílias, para fins que sejam coletivamente relevantes.”
E se as empresas se queixam de que vai tudo para o Estado, ele responde: “Estão a ver mal o assunto.” Pois “quando se faz um metro ou um hospital, o dinheiro não fica no Estado, mas nos serviços públicos. E devolve a acusação: “Quando se olha para os quadros comunitários de apoio, vemos que as empresas não têm sido capazes de executar o dinheiro todo que está disponível”. E mais adiante, reforça: “Os empresários não podem pensar que o Estado lhes paga salários e às vezes pensam. Mas do lado do Estado, também tem de haver mais protecionismo”.
“Ou nos entendemos ou perdemos poder”
Para o autarca de Gaia, “a autonomia do poder local termina quando está a pôr em causa os interesses estratégicos do país”. E foi o caso, na sua opinião, do que se passou com o aeroporto do Montijo, que obrigou o Governo a retirar poder às autarquias. Para que isso não aconteça, a mensagem de Vítor Rodrigues na liderança da AMP tem sido: “Ou nos entendemos ou perdemos poder. Não podemos estar sempre a reclamar do poder central e depois, quando temos a possibilidade de decidir, não nos entendemos”. Coisa que, asseguram não tem acontecido na AMP, constituído por várias cores políticas e até por independentes. “Temos conseguido um entendimento homogéneo”, diz.
A sua relação com Rui Moreira é caracterizada como “institucionalmente muito correta e de amizade pessoal”, o que resulta numa “grande articulação” entre os dois.
Admite, contudo, haver uma grande dificuldade de diálogo no que toca a regionalização, quando cada um “está a cuidar do seu território”. Mesmo sendo um defensor da regionalização, justifica: “A verdade é que, às vezes, ou se calhar sempre, é muito difícil ter uma visão regional, quando dentro da região há interesses múltiplos. Era preciso haver alguém que servisse de farol. Os líderes regionais são difíceis de existir quando não há região. Às vezes procuramos um homem ou mulher providencial. Não acredito que surja.”
Para ouvir em Podcast: