Nem sempre deputados eleitos abandonaram a bancada do seu partido por razões tão “comezinhas” como a atividade de roubar malas em aeroportos. A figura de “deputado não inscrito”, condição que o eleito nas listas do Chega pelos Açores, Miguel Arruda, agora invoca, já serviu de refúgio a parlamentares de praticamente todos os partidos políticos, embora as razões não fossem, até hoje, de índole criminal. Se a “deserção” de um deputado incomoda muita gente (do respetivo partido, pelo menos), imagine-se se estivéssemos perante a deserção de mais de metade dos deputados de uma única bancada… Pois foi isso mesmo que aconteceu ao PSD de Francisco Sá Carneiro, em 1978, quando os subscritores do documento interno Opções Inadiáveis bateram com a porta, todos ao mesmo tempo, depois de recusarem sujeitar-se à disciplina partidária durante a votação de um Orçamento do Estado. Esta fissura de proporções sísmicas foi tanto mais grave quanto era certo que, entre eles, estava um dos fundadores do antigo PPD, com o próprio Sá Carneiro: era ele o advogado lisboeta Magalhães Mota (visto, durante um largo período, como o nº 2 do partido) e mais duas personalidades de enorme peso, como Sérvulo Correia e Sousa Franco (que viria a ser ministro das Finanças – independente – de um governo de António Guterres e figura central no processo de adesão à moeda única europeia).
Em 1978 governava o País um executivo de iniciativa presidencial, chefiado por Carlos Mota Pinto, nomeado pelo Presidente Ramalho Eanes, depois da queda de dois governos de Mário Soares (e do malogro de uma primeira tentativa de um governo patrocinado por Eanes, chefiado por Nobre da Costa e cujo programa não passara no Parlamento). O próprio Mota Pinto, que estivera, ao lado de Sá Carneiro, no PPD, era já uma das figuras dissidentes, que se tinha desvinculado, depois de uma primeira cisão (voltaria depois e viria a liderar o PSD).